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Mostrando postagens de 2010

Chico Buarque e José Rodrigues da Graça Melo

Alguns entendidos dizem que não existiria Chico Buarque sem Noel Rosa e Tom Jobim. Concordo com ressalvas, mas é sempre um tema pra uma boa prosa sobre música. Dito isso e lembrando um velho problema de lógica, digo que não existiria o artista criador de Carolina, Januária, Cecília, Angélica e outras famosas sem a existência de José Rodrigues da Graça Melo. Quem? Ora, o grande José Rodrigues da Graça Melo, médico de profissão, mas talvez um tipo de anjo enviado pelos deuses tocadores de harpa. OK, até três dias atrás eu nunca ouvira falar a respeito desse sujeito. Mas trata-se de um cara BEM importante. Seu nome está nas páginas iniciais da biografia de Tom Jobim, escrita por Sergio Cabral. Em 25 de janeiro de 1927 um dos autores de “Desafinado” veio ao mundo pelas mãos de José Rodrigues da Graça Melo. Um punhado de anos pra trás, em 11 de dezembro de 1910, ele fazia o mesmo com o futuro Poeta da Vila. “Não há qualquer outro nome na medicina que tenha contribuído tanto para a nossa mús

O cinema de Bananal

Eis que após 26 anos de clausura, a cidade de Bananal, no interiorzão de SP, tem de novo um cinema à disposição de sua população. Passei a vida inteira ouvindo minha mãe e algumas tias apontando, em tom saudoso, que bem ali, no coração da rua principal do centrinho de Bananal, ficava o cinema. Neste feriado pude ver o espaço reformado e pronto para receber, com dignidade, a pequena população da cidade, ávida por cultura. O cinema foi reaberto no final de semana passado. A estrutura é simples: um grande auditório, com mais ou menos 200 cadeiras. No alto e ao fundo, um projetor. À frente, uma grande parede branca e um palco, o que permite aproveitar o espaço para apresentações teatrais também. Nenhum segredo, nenhuma inovação. Apenas um pouco de iniciativa da Prefeitura. No sábado, no horário nobre das 21h, não houve sessão, mas sim um espetáculo de dança chamado "Senha", que vem rodando o interior de São Paulo, às custas do governo estadual. No domingo, um filme infantil à tar

Livros, sempre eles

Reproduzo abaixo texto do Ruy Castro, publicado hoje na Folha: Alguém abre um livro Outro dia, falando num encontro de livreiros, eu dizia que todos nós, que trabalhamos com livros -que os escrevemos, editamos, distribuímos, vendemos ou promovemos-, devíamos nos sentir privilegiados. Nosso produto não anuncia na TV, não é vendido na farmácia junto com os xampus, fraldas e chinelos e, para ser apreciado, precisa ser lido linha a linha e ainda temos de lamber o dedo para virar a página. Mas, toda vez que um brasileiro abre um livro, o Brasil melhora. Tal afirmação ameaça parecer uma pieguice poética num país que, segundo o novo relatório divulgado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), pode estar em 73º lugar no ranking mundial de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) - o que, em si, já é uma vergonha -, mas, num dos itens mais importantes, empata com o Zimbábue, que, em 169º no ranking, é o mais atrasado do mundo. Nossos estudantes passam o mesmo número de anos

Então...

Quem dá bola a certos "especialistas" merece mesmo ouvir tais barbaridades. O papo abaixo rolou no "Bom dia Brasil" da última segunda-feira: Renato Machado: “Miriam Leitão, pela primeira vez uma mulher é eleita presidente da República. Qual é o significado deste fato?” Miriam Leitão: “Importantíssimo. A última vez que uma mulher governou o Brasil foi no século 19. E agora no século 21 uma mulher vai governar o Brasil. (…) Alexandre Garcia: “A Miriam me deixou com uma curiosidade. Que mulher governou o país no século 19?” Miriam Leitão: “A princesa Isabel, em nome do seu pai, quando ele viajava pra… Somado, dá quase quatro anos. Ela exerceu o mandato em partes, né?”

Envergonhado

Até segunda-feira à noite eu estava bem feliz pela vitória da Dilma. Na verdade, ainda estou, mas desde que me sentei à frente do computador um sentimento de vergonha bateu bem mais forte, devido a um nicho da população do Sul e do Sudeste que insiste em exibir todo seu preconceito e ignorância. Preconceito pela violência verbal que se viu em todas as redes sociais contra os cidadãos do Norte e do Nordeste, regiões nas quais Dilma se saiu muito melhor. Ignorância porque essas mesmas pessoas, que se consideram superiores, mostram que não sabem sequer ler as informações de uma eleição. Por que essa raiva toda também não foi direcionada aos cidadãos de Minas Gerais e Rio de Janeiro, estados nos quais Dilma ganhou de Serra com boa folga? Só em MG, foram dois milhões de votos a mais para a petista. No total, Dilma teve cerca de 12 milhões de votos a mais do que Serra. No Nordeste, ela teve 10 milhões de apoiadores a mais do que o tucano. Ou seja: mesmo que o Nordeste fosse suprimido do Bras

Serra, Dilma, a galinha e a rua

Não sei quem é o autor, mas dá pra rir um bocano... Serra e Dilma respondem: por que a galinha atravessou a rua? Dilma Rousseff: “No que se refere ao fato de a galinha ter cruzado a rua, eu considero que este é mais um ganho do governo do presidente Lula. Eu considero que foi apenas depois que o presidente Lula me pediu para coordenar o PAC das Ruas é que as galinhas no que se refere ao cruzamento das ruas tiveram a oportunidade de poder cruzar as ruas, coisa que, aliás, só as galinhas com maior poder aquisitivo podiam no governo FHC, no qual o meu adversário foi ministro do Planejamento e da Saúde”. José Serra: “Olha, este é mais um trolóló da campanha petista. Veja bem, as galinhas cruzam as ruas no Brasil, há anos. Eu mesmo coordenei a emenda na Constituição que permite o direito de ir e vir das galinhas. Eles ficam falando que foram eles que inventaram esse cruzamento de ruas, mas já no governo Montoro, quando eu era secretário do Planejamento, as galinhas cruzaram as ruas com ma

Rubens, o obstinado

Rubens trabalha no mesmo prédio que eu. Ele é um dos porteiros do edifício, responsável pelo turno entre 15h e 22h. Sujeito educado, de fala mansa e sempre disposto a uma prosa, há cerca de quatro meses comecei a reparar que ele sempre aproveitava seu tempo livre para estudar. “Concurso público”, explicou certo dia, ao me chamar para tirar uma dúvida de português. Rubens tem dois empregos. O de porteiro na Liberdade é seu segundo. O primeiro é fruto de outro concurso público, mas para nível de Ensino Fundamental. “Agora estudo para um de nível um pouco melhor, de Ensino Médio”, comentou. Coisa de três semanas atrás, numa noite em que esperava pela Aline, vi que Rubens digitava algo num teclado meio velho. Na tela do computador, no entanto, apareciam somente as imagens das câmeras de segurança do prédio. Fiquei sem entender, mas Rubens tinha a resposta: “Não posso tirar as imagens das câmeras da tela, então uso o teclado para praticar minha digitação”. Rubens havia passado para a segund

Brasil, 1 ano

Hoje faz exatamente um ano que voltei da América do Norte, depois de alguns meses absolutamente fantásticos. É antigo o chavão de viagens que mudam uma pessoa, mas não acho que isso tenha ocorrido – nem pro bem e nem pro mal. Experiências como essas devem ser simplesmente usufruídas, sem a necessidade de significar qualquer ruptura ou uma nova fase, como se tornou usual dizer. Tem chovido pouco em São Paulo nos últimos meses. No entanto, sempre que isso ocorre, Vancouver vem à cabeça imediatamente. O frio paulistano, por sua vez, às vezes consegue ser mais cortante do que o canadense ou o estadunidense, mesmo quando a temperatura por aqui está acima dos 10º – certos fenômenos eu simplesmente não tenho a capacidade de comprender... Sinto falta do Stanley Park, em Vancouver. Sinto falta das pizzas toscas de US$ 1,50 a fatia e do chocolate quente do Tim Hortons. Sinto saudade de alguns amigos que fiz por lá e não entendo como companhias tão importantes de repente desaparecem. Não sinto ta

O clima de assédio moral entre evangélicos

Reproduzo texto enviado ao Blog do Luis Nassif, sobre certos aspectos bem lamentáveis em algumas igrejas protestantes. Em tempo: este blog já ouviu relatos bem piores de líderes católicos, espíritas, umbandistas e de cidadãos sem qualquer religião. O problema não é a fé de cada um, mas a intolerância em relação a pontos de vista divergentes sobre política, problemas sociais e afins. Segue abaixo o relato, escrito por Elias Aredes Junior: Nassif, Quero dar aqui meu testemunho sobre o clima nas igrejas evangélicas brasileiras. Sou protestante, cresci na Igreja Metodista e atualmente frequento a Igreja do Nazareno em Campinas. Concordo com a tese defendida por Marcos Moniz, mas quero chamar a atenção para outro aspecto fundamental: o preconceito e o clima de perseguição que existe dentro das próprias igrejas evangélicas com pessoas de ideário progressista. Apesar dos esforços de pastores que criaram o Movimento Evangélico Progressista, a atitude natural é que a pessoa que vota no PT seja

Bom jornalismo, quando assim se deseja

Desde a primeira semana do horário eleitoral gratuito na TV eu vinha chamando a atenção junto a alguns amigos e colegas sobre a diferença gritante da qualidade dos programas de Serra e Dilma. Enquanto os vídeos do tucano se pareciam com produções dos anos 90, os materiais da ex-ministra se assemelhavam a produções cinematográficas. Eis que a "Folha de S.Paulo" deste domingo trouxe uma boa explicação sobre toda essa diferença de qualidade, mostrando que, quando há um interesse bem definido, o jornal sabe como fazer jornalismo de qualidade. Segue abaixo o texto: A Hollywood de Dilma Mais rica e preparada com antecedência, campanha da petista na TV usa técnicas "de cinema" e câmera que pode custar R$ 500 mil ANA FLOR FABIO VICTOR DE SÃO PAULO Se em marketing político imagem é tudo, a campanha da presidenciável Dilma Rousseff (PT) possui armas poderosas na guerra do horário eleitoral na TV. A começar pela Red One 4K, uma câmera digital americana que filma com resolução

Hoje é dia de ver House!

Eis que após alguns meses de jejum, House volta ao ar nesta noite nos EUA. Feliz pelo retorno, seguem abaixo algumas das grandes frases e tiradas das seis primeiras temporadas: - Todo ser humano mente, a única variante é sobre o quê. - Fazendo de propósito, evitam-se os acidentes. - Se você fala com Deus, você é religioso; se Deus fala com você, você é psicótico. - Pessoas mentem por milhares de razões... sempre há uma razão! - Você não pode morrer com dignidade, apenas viver com ela! - Eu aprendi que quando você quer saber a verdade sobre alguém, este alguém é provavelmente a última pessoa que você deve perguntar. - Mentiras são como crianças: apesar de inconvenientes, o futuro depende delas. - Por que Deus leva todo o crédito quando algo bom acontece? - Religião não é o ópio das massas. Religião é o placebo das massas. - Esperança é para mariquinhas. - Espere! Não reze! Eu quero todos os créditos para mim! - Se você pudesse argumentar racionalmente com pessoas religiosas, não haveria

Sobre estudar em um lugar como Harvard

Segue abaixo o depoimento de Gustavo Romano, ex-mestrando em Harvard, sobre o que é estudar em uma universidade de nível tão elevado. O texto foi publicado na edição desta quinta-feira (16) da Folha de S.Paulo. Em Harvard, você é só um grão de areia em boa companhia "Vocês só estão aqui porque foram os melhores de onde quer que vocês vieram. Mas não se esqueçam: aqui, vocês são todos iguais. E isso vai deprimi-los". Foi brincando assim que o reitor nos recepcionou no primeiro dia de aula em 2000. Éramos 150 alunos de mestrado vindos de 60 países. Na minha mesa, havia o filho de um juiz da Suprema Corte indiana, o filho de um dos homens mais ricos da Arábia Saudita, um sul-africano preso 32 vezes durante o apartheid e um alemão que depois foi fazer dois doutorados simultaneamente. Aqueles dois minutos foram uma boa aula do que é estudar em Harvard. Primeira lição: você está em uma máquina de ensinar bem azeitada que já formou mais de 320 mil pessoas espalhadas por 191 países.

O exemplo da IURD

Você que gosta de comunicação, se interessa por religião ou simplesmente pelo que acontece ao seu redor, já teve a chance de dar uma folheada na "Folha Universal", publicação semanal da Igreja Universal do Reino de Deus? Há pouco mais de um ano ouvi falar que a IURD havia decidido investir pesado em seu principal veículo impresso, e para isso contratou jornalistas experientes e todo o aparato necessário para fazer um material de qualidade. A profissionalização passou a contar mais do que as relações com dirigentes da igreja. E parece que o resultado disso tem sido muito bom. Deixaram um exemplar da "Folha Universal" na semana passada no portão de minha casa. De cara, um número desperta minha atenção: 2.554.750 exemplares de tiragem, algo absurdamente grande. Para efeito de comparação: a "Veja", apesar de todos os pesares, ainda tem cerca de um milhão de assinantes, além de cerca de 200 mil exemplares vendidos semanalmente nas bancas pelo país afora. Ainda

Música de gente grande

Demorei algumas semanas pra ouvir o disco novo do Pato Fu, "Música de brinquedo". Quando me falaram a respeito, pensei que se tratasse de um projeto com canções infantis, ao estilo Adriana Partimpim. Mas não. Os cinco "patos" selecionaram 12 músicas adultas, daquelas que grudam no ouvido, nacionais e internacionais, e as gravaram somente com instrumentos de brinquedo, conforma atesta a foto ao lado. Um kazoo entrou no lugar de instrumentos de sopro, um brinquedo Genius simulou um saxofone e uma calculadora Casio reproduziu o som de um teclado. Fora um elefante de plástico, cujo ronronar entrou no lugar de uma parte orquestrada de “Live and let die”, de Paul e Linda McCartney. Leio por aí que. segundo a vocalista Fernanda Takai, o desafio em “Música de brinquedo” foi encontrar objetos que pudessem substituir os instrumentos musicais marcantes das faixas originais. Além deles, as canções contam também com as participações dos filhos de alguns dos "patos"

Sobre jornalismo asqueroso e o hábito de ler

Mario Prata deu uma entrevista ao "Diário de Natal" nesta semana. Boas declarações. A íntegra segue abaixo, mas chamo a atenção para dois aspectos muito bacanas: sua análise sobre a imprensa brasileira e as razões pelas quais a atual geração de crianças e adolescentes lê pouco (ou lê porcarias demais). Confira aí (com alguns negritos estrategicamente selecionados): Mario Alberto Campos de Morais Prata. Mario Prata. Escritor, jornalista, mineiro, simpático, antipático, inteligente, sarcástico. Gentil, educado, escrachado. Quem não conhece Mario Prata? Ele esteve em Natal na semana passada participando do IV Seminário Potiguar Prazer em Ler e concedeu entrevista ao Diário de Natal. Era fim de tarde quando Mario recebeu a equipe na entrada do hotel. Falando devagar, criticou a imprensa brasileira, reconheceu que já escreveu fracassos e afirmou que para as crianças começarem a ler é preciso indicar livros apropriados para a idade delas. Existe uma razão para se ler tão pouco no B

Soberano!

O filme estreia só dia 16 de setembro, mas já é possível ver o trailer. Todo são-paulino vivo tem que dar um jeito de assisti-lo. A fase atual é ruim, mas nossa história é superior à de qualquer adversário, seja em âmbito nacional ou internacional. Em alguns casos, é até covardia fazer certas comparações...

E quando ele(a) decidir o que será quando crescer?

Desde que passei a considerar seriamente a ideia de ser pai, volta-e-meia me pego preocupado com a educação do(a) futuro(a) herdeiro(a) – já escrevi sobre isso por aqui, quando escrevi sobre a dificuldade de se escolher uma escolinha para os primeiros anos de vida de uma criança. Volto ao tema, mas já pensando mais à frente, na época em que precisar dar algum tipo de "orientação vocacional" ao moleque-bom-de-bola ou à menina-linda-do-papai. Quase todos os jornalistas que conheço sempre falam que a sugestão deve caminhar para a área de exatas; alguns amigos da área de exatas sugerem profissões mais criativas. No frigir dos ovos, poucos são (ou estão) realmente satisfeitos com seus trabalhos, mas no final das contas a ideia de direcionar a profissão de um filho me parece tão ultrapassada quanto certos conceitos que ainda temos sobre a hora certa para buscar um primeiro emprego. As próximas décadas vão mostrar qual rumo o Brasil tomará, mas percebo que a maioria das pessoas de m

A ignorância de Sayad não pode comprometer a TV Cultura

Susto. Estarrecimento. Tristeza. Revolta. Há uma lista muito maior de adjetivos que podem descrever o que milhares de internautas sentiram ao tomar conhecimento da ignorância do novo presidente da TV Cultura, João Sayad, em relação a um dos maiores personagens da música e da cultura do país nas últimas décadas: Fernando Faro. Vale a pena reproduzir aqui a cena ocorrida nesta semana na sede da TV Cultura, conforme publicado pelo jornalista Luis Nassif, em seu blog: Em reunião ontem, na TV Cultura, com o pessoal da área de musicais, João Sayad afirmou que o programa “Ensaio” – o mais importante programa de música da história da televisão brasileira – está ultrapassado e será revisto, porque ele não gosta e o modelo é de quarenta anos atrás. Um dos funcionários rebateu: - O senhor é um economista, acostumado com calculadoras e planilhas. Nós aqui dos musicais estamos acostumados com sonhos, música e sentimentos. E a gente se espelha não em números, mas nesse senhor aqui do lado, que se c

Sobre livros e a curiosidade

Reproduzo aqui texto do chapa André Toso, publicado originalmente no "Sete doses". Jornalista de mão cheia e futuro psicanalista, o rapaz atualmente só tem o defeito de ter se tornado um completo desleixado nas práticas desportivas - mal que afeta grande parte daqueles que fazem da escrevinhação seu ofício, infelizmente. André Toso é o cara que me apresentou às canções de "Guinga" - e só por isso ele merecerá meu respeito e gratidão até os 48 minutos do segundo tempo da minha existência. Mas, além disso, ele é o cara com o qual meus temores, opiniões, indagações, indignações e esperanças sobre educação mais se aproximam. Eis por que seu texto segue abaixo: Sobre livros e a curiosidade Revoltei-me de vez com a escola durante o segundo colegial. Era quarta-feira, estudava no Objetivo, em Jundiaí, resolvi deixar a aula de física de lado e ir para a biblioteca. Estava sentado na mesa, quieto, lendo “Crime e Castigo”, de Fiodor Dostoiévski (1821-1881), quando a inspeto

Diferenças # 4

Texto de Carlos França, publicado originalmente no blog do Luis Nassif, toca num tema interessante do último debate presidencial, quando Serra criticou a política do governo Lula em relação às Apaes. Leia aí: "Sendo pai de uma menina especial, portadora da Síndrome de Down, senti asco e nojo do candidato Serra no debate. Esse candidato tentou explorar dúvidas de pais e amigos (quase toda a população) de pessoas especiais de como seria a melhor forma de educar esses cidadãos. A política de inclusão, do governo Lula, das pessoas especiais nas escolas públicas é correta: todos os brasileiros tem o direito à educação fornecida pelo estado. Às APAES não cabe a educação formal mas complementar. Esse candidato, que espero que suma da vida pública, apenas lançou dúvidas, divulgou preconceitos e maledicências contra a inclusão de pessoas especiais na sociedade. Se antes eu apenas o desprezava, agora eu o combaterei. O meu mais veemente repúdio a esse candidato e à utilização eleitoreira

"Uma noite em 67" foca geração musical que virou tudo de ponta cabeça

“É naquele momento que o Tropicalismo explode, a MPB racha, Caetano e Gil se tornam ídolos instantâneos, e se confrontam as diversas correntes musicais e políticas da época”. A frase de Nelson Motta resume bem o que foi a noite de 21 de outubro de 1967, data em que se realizou o 3º Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. “Uma noite em 67”, por sua vez, além de documentar os bastidores dessa data histórica, tenta explicar o que se passou daquela noite em diante na história da música no país. O documentário de Renato Terra e Ricardo Calil é simples no formato e vai direto ao que se propõe, ao intercalar cenas de arquivo daquela noite e entrevistas gravadas depois de quatro décadas com alguns de seus protagonistas. Boa parte das imagens faz parte do repertório daqueles que se interessam por MPB, como a de Sergio Ricardo quebrando seu violão e Caetano e Chico Buarque cantando “Roda viva” com os rapazes do MPB-4, mas seus diretores acertam em cheio ao selecionar, por exemplo, as

Amor perto dos trilhos

“Quantos anos você me dá?”, pergunta a jovem senhora, na entrada do metrô. Antes da resposta, seu paquera lhe tasca um beijo tímido, provavelmente para fugir da enrascada. Entro na estação Liberdade. Passo a catraca. Do alto da escada rolante, vejo um casal jovem dando uns amassos perto de uma pilastra. Passo perto dos dois de propósito. Eles seguem bem próximos, mas não tão colados quanto antes. “Vamos nos ver de novo esta semana?”, ela pergunta. Já na plataforma, outro casal. Ela parece brava. Nem me arrisco a chegar perto. Dedo em riste. O rapaz está cabisbaixo, sem esboçar qualquer reação. Quando o trem chega, ele se desvencilha da moça e tenta embarcar, mas ela o segura. Abraçam-se.

Tostão, um alento na crítica esportiva

Não é de hoje que Tostão capricha em seus textos como comentarista esportivo. Seu texto deste domingo, no entanto, é a prova de que é, sim, possível escrever de forma inteligente e abrangente mesmo quando o assunto em questão é futebol. Destaco trecho sobre a "peste" de Freud. Deleite-se: Reaprender a sonhar Os garotos Ganso e Neymar são as esperanças do futebol brasileiro nos próximos anos Certa vez, li que os códigos de comportamento de uma sociedade costumam durar umas três gerações. As coisas, mesmo as que não gostamos, ficam impregnadas em nosso inconsciente, em nossa alma. No século passado, quando as ideias de Freud, um cientista da alma, espalhavam-se pelo mundo, os americanos, que querem ser sempre os melhores e os primeiros em tudo, convidaram o médico austríaco para uma série de palestras nos grandes centros científicos dos EUA. Durante a viagem, Freud disse a Carl Jung, então seu amigo e discípulo: “Vou levar a peste aos americanos”. Os americanos escutaram o

Ôôôô... listen to the music

Na segunda semana em Vancouver, um outro brasileiro, o Vinny, um cara que já havia morado nos Estados Unidos e tinha um nível de inglês bem melhor do que o meu, explicou o processo de aprendizado de outro idioma de uma forma que nunca mais saiu de minha cabeça. Ele dizia que era preciso "pegar a música" do idioma, seja das pessoas nativas do país ou mesmo dos estrangeiros que já são fluentes. E não importava quanto tempo alguém já tivesse estudado essa outra língua: ao chegar em outro país, tudo só transcorreria bem quando a tal música fosse devidamente captada. Depois de alguns meses por lá, vi que ele estava realmente certo. E comprovei isso mais uma vez em recente visita a trabalho à "Beneçuela". A impressão é a de que cada país hispanohablante tem uma "música" diferente, que exige uma adaptação que pode ser mais demorada ou menos demorada. Ainda na América do Norte, eu pensava que a "música" do Vinny tinha mais a ver com sotaques. Por lá, vi

Contra a palmada

O maior mérito de se discutir a aprovação ou não de uma lei que criminize os pais que batem nos fllhos é justamente o fato de se conversar sobre esse tema. Acho um pouco exagerado transformar isso em lei, embora vale a pena lembrar um detalhe: quem bate em idosos é punido pela legislação. Por que a violência contra crianças não pode ter tratamento semelhante? Como não sou especialista nisso, reproduzo abaixo dois textos com os quais concordo vírgula por vírgula. O primeiro é da neurocientista Suzana Herculano; o segundo é da psicóloga Rosely Sayão. Não existe palmada bem dada Claro que o objetivo não é colocar na prisão aqueles pais que, incapazes de resolver desavenças com seus filhos na base da conversa, recorrem à punição física na forma de "uma palmada bem dada", no afã de impor alguma sombra de autoridade. O estatuto que proíbe a punição corporal de crianças visa a que se deixe de considerar normal, necessário ou saudável "educar" com violência. Como a soc

Serra, entre drogas e alucinações

Reproduzo abaixo artigo do desembargador Wálter Maierovitch, esclarecedor no que diz respeito ao combate às drogas em nosso continente: José Serra, entre drogas e alucinações Quando ministro da pasta da Saúde, o atual candidato José Serra jamais se preocupou com a questão das drogas ilícitas, no que tocava ao tratamento do dependente químico e psíquico e na formação dos agentes de saúde. Sua gestão, no particular, foi marcada pelo descaso e pelo desrespeito aos direitos humanos. No ministério, ele se revelou incapaz de compreender que estava diante de um grave problema de saúde pública. E os aumentos relativos ao consumo e à oferta de drogas ilícitas causavam consequências sociossanitárias de grande monta. Apesar disso, fez de conta que o problema não existia. Ao primeiro Fórum Nacional sobre drogas ilícitas e álcool, Serra virou as costas. Pela primeira vez realizado no Brasil, tratava-se de um fórum multidisciplinar e voltado a consultar e debater com a sociedade civil uma nova polít

A falta que FHC faz

Em dias nos quais a oposição começa a baixar o nível absurdamente, o Nassif aparece com uma análise ne medida. Segue abaixo: A falta que FHC faz Aproximar-se de FHC, apropriar-se de seu discurso, não daria a vitória a José Serra. Mas, depois que FHC foi defenestrado da campanha de Serra, perdeu-se qualquer veleidade de discurso político. Não duvido se Marina começar a crescer à custa da candidatura Serra. Antes, na oposição havia um corpo coerente de idéias, algo palpável em torno do qual poderia haver debate político. E digo isso, sendo crítico de primeira hora do mercadismo fernandista. Mas tinha-se o que criticar. Defendendo as bandeiras de FHC, Serra seria derrotado, mas de outra maneira: a oposição sairia com algum legado, com idéias que, passadas as eleições, serviriam de ponto inicial para um novo discurso, um contraponto consistente ao novo governo. Embora nunca tivesse praticado gestão, o discurso fernandista encampava a bandeira da gestão, assim como da privatização, do pr

“Pra falar sobre o tempo ou sobre como está o mar”

É batata! Toda vez que alguém fala sobre como está fazendo frio ou sobre a chuva, me vem à cabeça a velha letra de “Lôrabúrra”, do Gabriel, o Pensador, citado no título deste post. Mas quero falar disso, apesar de sempre soar como falta de assunto. Pra não ficar tão chato, talvez uma pitada social dê um caldo mais interessante. O entorno da Praça da Liberdade e da Avenida Liberdade tem vários bancos. Desde segunda-feira, quando chegou a São Paulo essa onda de frio, muitos, mas muitos moradores de rua têm se abrigado em frente ao Bradesco, ao Santander, à Nossa Caixa e outros. A cena não é nova e nem deixará de existir tão cedo, mas é sempre irônico pensar onde esses cidadão vão procurar abrigo. Ontem, ao esperar o farol abrir, por volta das 18h30, bem em frente ao Santander, ouvi uma senhora comentar com outra, em tom de pena: “Você consegue ter noção do frio que essas pessoas vão passar esta noite?” Problemas sociais à parte, fiquei por um bom tempo tentando mensurar a dor que aquelas

"House" esculacha a ditadura da ética

Reproduzo abaixo texto do jornalista Breno Altman, do site "Opera Mundi" , sobre "House", série cuja sexta temporada se encerrou há algumas semanas, de forma arrebatadora, após alguns momentos de baixa ao longo deste ano. Fica a dica também pro site onde o texto está publicado. “House” esculacha a ditadura da ética Os fãs respiram aliviados. Novos episódios da série médica mais aclamada do planeta começaram a ser gravados na semana passada. Apesar de especulações sobre descontinuidade, House entrará, a partir de setembro, nos Estados Unidos, em sua sétima temporada. Os brasileiros, porém, terão que aguardar até o primeiro semestre de 2011. Criado por David Shore e originalmente exibido pela Fox desde 2004, o teledrama estrelado por Hugh Laurie alcançou, em 2008, o topo dos programas mundialmente mais assistidos: 80 milhões de espectadores em 66 países. Além do sucesso de público, acumula premiações e elogios da crítica. A que se deve, afinal, o sucesso do clínico ar

E quando tiver que escolher a escolinha?

Amigos noivando. Amigos casando. Amigos morando juntos. Amigos tendo filhos. Amigos gastando com fraldas. Amigos comemorando aniversários de seus filhos. Filhos de amigos crescendo. Esse cenário atualmente é real. Há alguns anos, era completamente improvável em minha vida. Hoje, vejo de forma diferente, mas alguns temores ainda permanecem. O maior deles está no título deste post. Há alguns anos, quando o filho de um amigo bem chegado estava com uns quatro anos, ele me relatou algo à primeira vista engraçado, mas cuja verdade não tem graça nenhuma. Durante a festa junina da escolinha, tocava em alto e bom som uma música cujo refrão é “Beber, cair, levantar”. Pior do que isso: a maioria das crianças cantava junto, estimulada pelos professores. Há menos tempo, outra amiga, professora de um colégio bem caro (coisa de quase R$ 1.500 por mês), me descrevia o nível lamentável de suas colegas, responsáveis pela educação de crianças de quatro a seis anos. Profissionais completamente alienadas,

Observar, aprender, evoluir

O blog do Alexandre Cossenza, no site do Globo Esporte.com é leitura obrigatória pra quem gosta de tênis. Segue abaixo um texto em que ele sugere algumas tecnologias de seu esporte para o futebol: Não é exclusividade do esporte. Acontece em todas as áreas. Uma pessoa faz algo diferente e que dá certo. Outra copia e aperfeiçoa. E o método segue sendo aperfeiçoado até que alguém volte a inovar. E assim segue o ciclo. A relação entre esporte e tecnologia não é diferente. E neste domingo, quando dois jogos da Copa do Mundo tiveram seu curso natural alterados por falhas de arbitragem, fico a pensar no que o futebol poderia aprender com o tênis. O nosso esporte (uso o possessivo porque este blog, afinal, é sobre a modalidade nascida em Wimbledon) tem suas tradições e hábitos, mas soube se adequar aos avanços da tecnologia. Com o desenvolvimento de novas raquetes, cordas e pisos sintéticos mais rápidos, o tênis percebeu que o trabalho dos juízes de linha poderia ser auxiliado. E não teve med