Pular para o conteúdo principal

O clima de assédio moral entre evangélicos

Reproduzo texto enviado ao Blog do Luis Nassif, sobre certos aspectos bem lamentáveis em algumas igrejas protestantes. Em tempo: este blog já ouviu relatos bem piores de líderes católicos, espíritas, umbandistas e de cidadãos sem qualquer religião. O problema não é a fé de cada um, mas a intolerância em relação a pontos de vista divergentes sobre política, problemas sociais e afins.

Segue abaixo o relato, escrito por Elias Aredes Junior:

Nassif, Quero dar aqui meu testemunho sobre o clima nas igrejas evangélicas brasileiras. Sou protestante, cresci na Igreja Metodista e atualmente frequento a Igreja do Nazareno em Campinas. Concordo com a tese defendida por Marcos Moniz, mas quero chamar a atenção para outro aspecto fundamental: o preconceito e o clima de perseguição que existe dentro das próprias igrejas evangélicas com pessoas de ideário progressista. Apesar dos esforços de pastores que criaram o Movimento Evangélico Progressista, a atitude natural é que a pessoa que vota no PT seja discriminada e colocada de lado na maioria das igrejas. Seja antes durante ou depois das eleições. Já senti isso na pele.

As atitudes vividss aqui em Campinas comprovam meu temor. Basta dizer que, no início do mês passado, recebi diversos vídeos direcionados contra o PT pelo pastor Paschoal Piragine Junior, da Primeira Igreja Batista de Curitiba. Suas declarações continham inverdades e informações deturpadas. Como cidadão que sou, fiz a minha parte e redigi uma resposta direcionada ao pastor e esclarecendo os pontos inveridicos. Mandei até para pessoas que considerava como amigos intimos. O que recebi em troca? Ao invés de um debate saudavel, o fruto colhido foi preconceito, ignorância e retaliação de todas as partes.

Algumas pessoas colocaram até o meu carater em dúvida em virtude da minha posição política. Quero deixar claro, porém, que o pastor titular da igreja que frequento, chamado Fernando Henrique Cavalcante de Oliveira, nunca fez qualquer comentário danoso. Pelo contrário: é um dos únicos líderes evangélicos de Campinas que usam o púlpito apenas para propagar a palavra de Deus e não se envolve com politica. Pode fazer uma declaração sobre o tema, mas com o objetivo que as pessoas adotem a consciência como único norte para a definição do voto. Independente do partido político de preferência da pessoa.

Outro fato concreto: a igreja Assembléia de Deus, cuja sede em Campinas está no Parque Itália, por diversas vezes no culto de quarta-feira fez campanha escancarada contra o Partido dos Trabalhadores. Mais: chegaram a exibir o vídeo do pastor Piragine durante o culto e distribuir cópias do vídeo aos frequentadores do culto. Que são mais de 2 mil pessoas. Agora, o detalhe: o pastor titular da igreja é Paulo Freire, eleito deputado federal pelo Partido da República, coligado com o Partido dos Trabalhadores.

Outro detalhe: a maioria das pessoas com quem converso e que frequentam as igrejas são enfáticas em condenar o PT sobre a posição sobre o aborto. Dizem o slogan sobre a vida, etc e tal. Mas são incapazes de discutir temas fundamentais como planejamento familiar e controle de natalidade. E de se informar que se existe o tema no programa de governo de Dilma Roussef é para contemplar a ala feminista do partido. E que os católicos e evangélicos não aprovam o tema. Mas que nada. Não adianta argumentar: a pessoa que tenta explicar é condenada sumariamente, sem perdão. Por isso, digo sem medo de errar: esses temas são proibidos de se discutir dentro das igrejas evangélicas. Existe uma censura velada e o lema é seguir o líder incontestável.

Um outro tema carregado de preconceito é a união de homossexuais. Escolher a opção sexual é a opção de cada e se nós, evangélicos propagamos que é pecado deveríamos amar ainda mais. Por que Cristo antes de qualquer coisa amou o pecador. Pois eu digo que já presenciei em uma igreja de Campinas um pastor fazer o seguinte comentário ao vislumbrar diante de si uma passeata gay: "Tive vontade de pegar meu carro e jogar em cima daquelas pessoas". Detalhe: a declaração foi feita diante de um público de, no minimo, três mil pessoas.

Nassif e colaborares do blog: a verdade é que está instituida na igreja evangélica brasileira o voto de cabresto. E na maioria das vezes, a pessoa que declara o seu voto no Partido dos Trabalhadores recebe em troca retaliação, discriminação e censura. E até a perda de vinculos de amizade.

Chamo atenção para o seguinte fato: nos Estados Unidos, em 2000 e 2004, presenciaram as suas eleições focadas em aspectos morais. A orientação sedimentou a vitória de George W. Bush., que certamente entrou para a história como um dos piores presidentes da história dos EUA. Não estou dizendo que Serra é o Bush

Por isso, mais do que um texto, este é um apelo de uma pessoa com ideário progressista e que deseja apenas possuir o direito de exercer a sua cidadania. E mais: que sonha com o dia em que a igreja evangélica tenha maturidade e capacidade de contemplar variedade de opiniões. Guiar-se apenas pela mente de pessoas designadas como comandantes de um rebanho (pelo menos isso é que deveriam fazer!!!) que adotam a retaliação politica como norma de conduta.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os compatriotas de Woody Allen

Estava em algum site por aí hoje: O diretor americano Woody Allen considera que a maioria de seus compatriotas são gordos e sexualmente complexados. "Tudo ali é expressão do medo e da repressão sexual: a loucura religiosa, o fanatismo pelas armas, a extrema-direita louca. Eles têm uma visão da sexualidade marcada por duvidosas leis morais", afirma Allen, em entrevista antecipada hoje pelo jornal "Die Zeit". O diretor de "Vicky Cristina Barcelona" considera que o sexo é utilizado nos Estados Unidos "como uma arma dramática, assim como a violência" e que as muitas cenas de sexo nos filmes produzidos em seu país são "simplesmente entediantes".

"Vesti azul.... minha sorte então mudou"

A primeira vez que ouvi falar em Wilson Simonal foi no colégio - se não me engano, numa aula da Tia Idair, na quarta série. Por algum motivo, ela havia citado "Meu limão, meu limoeiro" e ninguém da classe sabia do que se tratava. Estupefata, ela cantarolou "... uma vez skindô lelê, outra vez skindô lalá" e tentou fazer algo no estilo que o "rei da pilantragem" costumamava aprontar com suas plateias . E deu certo. Dia desses fui ver "Simonal - Ninguém sabe o duro que eu dei", documentário muito bem feito sobre a carreira do sensacional cantor, com ênfase, claro, na eterna dúvida que o cercou desde os anos 70 até sua morte, em 2000: Simonal foi um dedo-duro dos militares durante a ditadura ou não? Pra quem não sabe do que se trata, um resumo curto e grosso: Simonal competia com Robertão na virada dos 60 para os 70 como o cantor mais popular do Brasil. Um belo dia, seu nome aparece nos jornais como delator de companheiros de profissão, alguém a serv

A grandeza de Nelson Ned

Um belo dia, em um programa de televisão (“Conexão Internacional”, da extinta Rede Manchete), Chico Buarque enviou uma pergunta para Gabriel García Márquez: “As suas preferências musicais causam espanto em muita gente, principalmente aqui no Brasil. Eu queria saber se os seus romances fossem música, seriam samba, tango, som cubano ou um bolero vagabundo mesmo?”. Com elegância e sem vergonha de suas preferências, o escritor colombiano respondeu: “Eu gostaria que fossem um bolero composto por você e cantado pelo Nelson Ned”. Pela terceira vez (haverá ainda um quarto texto), recorro a “Eu não sou cachorro, não”, livro de Paulo César Araújo para relatar causos de nossa cultura popular. Pouco antes da resposta de Gabo a Chico, fico sabendo ainda que o Nobel de Literatura escreveu “Crônica de uma morte anunciada” ao som de canções como “Tudo passará”, do grande pequeno cantor brasileiro, cuja obra em geral é relegada aos rótulos de “cafona” e “brega” de nossa discografia. Nelson Ned é figura