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Mostrando postagens de setembro, 2011

PES x FIFA – ou uma briga que parece a de petistas x tucanos

O papo agora é sobre videogame. Mais especificamente, sobre jogos de futebol para videogame. Você que curte também, já reparou na picuinha que existe por aí entre adeptos do Pro Evolution Soccer (PES) e da série FIFA? Em alguns casos, os defensores de cada franquia parecem petistas e tucanos em época de eleição: sobra intransigência para todos os lados, especialmente nos botecos virtuais em que se transformaram os fóruns de algumas páginas da internet. Aviso logo: sou da turma do PES e não abro. No ano passado até me arrisquei no FIFA 11, mas a experiência só serviu para mostrar o quanto me adapto mais ao jogo que no Brasil por muito tempo era chamado como Winning Eleven – nome que era dado por sua fabricante no Japão e que só depois de algum tempo foi deixado de lado pelos brasileiros. As trocas de farpas entre os “fifistas” e “pesistas” estão a todo vapor desde a semana passada, quando vários sites noticiaram a data exata do lançamento da versão 2012 de ambos (27 de setembro). É óbvi

Chico fala sobre racismo: "O brasileiro não aceita o fato de ser mestiço"

O vídeo abaixo não é novo – se não me engano é de 2006 – e faz parte daquela coleção de 12 DVDs sobre a obra do Chico. Quando vi a fala aqui selecionada, me lembro que fiquei falando sobre esse depoimento por umas duas semanas, quase monotemático. O assunto é racismo e a hipocrisia do brasileiro em relação a isso. Chico, como se tornou praxe em seus depoimentos para documentários, mescla sensatez com um bocado de bom humor. Ironiza os brasileiros que se acham "brancos", relata o mal-estar sofrido por sua família depois que uma de suas famílias se casou com Carlinhos Brown e define como hipócritas aqueles que não veem racismo em nossa sociedade. Em resumo, daqueles vídeos que valem a pena rever de tempos em tempos (se possível, assista aos 12 DVDs - vale BEM a pena!).

A "Trilha das lágrimas" - um capítulo vergonhoso da história dos EUA

Reproduzo abaixo um trabalho feito no ano passado para a disciplina de "História dos Estados Unidos". Trata-se de uma pesquisa feita sobre a "Trilha das lágrimas", episódio acontecido no século XIX e que mostra uma das facetas da construção da "democracia" norte-americana. Se alguém se interessar pelo tema e precisar das fontes (não coloquei aqui as notas de rodapé), é só mandar uma mensagem. UMA DEMOCRACIA BRANCA A “Trilha das Lágrimas” e a política do governo Andrew Jackson em relação aos povos indígenas norte-americanos Uma mera entrevista, concedida por um dos chefes indígenas da tribo dos Choctaw, permitiu que um repórter do jornal "Arkansas Gazette" registrasse uma expressão que viria a entrar – de modo nada honroso – para a história dos Estados Unidos. Ao ser questionado sobre o processo de remoção de seus pares para a região de Little Rock, em conformidade à política imposta pelo governo norte-americano em 1830, o “pele vermelha” (de nome

House, 8ª temporada: que seja a última!

A nova temporada de “House” começa oficialmente no dia 3 de outubro, mas o episódio inicial já vazou. O próprio Hugh Laurie já sinalizou, em recente entrevista, que provavelmente este é o último ano da série. Até um tempo atrás essa ideia me desanimava um pouco. Depois de assistir ao novo episódio, mudei de opinião. “House” continua sendo uma das melhores coisas da TV norte-americana, sem sombra de dúvida. Mas a fórmula está esgotada. É preciso que os roteiristas encontrem uma forma digna de encerrar a série, no mínimo para fazer jus ao excelente nível das primeiras temporadas e de alguns episódios eventuais a partir do sexto ano. Os diálogos continuam bons, a atuação de Laurie segue excelente, ainda consigo me divertir e me impressionar com a trama, mas falta algo. Até dado momento (talvez até meados do sexto ano) a evolução psicológica do protagonista vinha se sustentando muito bem, mas no decorrer da sétima temporada aparentemente houve uma perda de rumo muito grande – com direito a

Três do Chico

Fuçando em e-mails antigos, achei os textos do blog anterior, encerrado em 2006. Peguei três deles – todos com alguma menção ao Chico Buarque, já que fazia tempo que não publicava nada sobre ele aqui – e joguei num post só: 2004 - Entrevista ao “La Vanguardia” O compositor resume o atual momento de sua vida: "Tenho 60 anos. Nasci e vivo no Rio de Janeiro. Estou separado e tenho três filhas, duas netas e meia e um neto: Chico. Sou um democrata que ainda crê na possibilidade de um socialismo democrático. Já vivemos quase duas décadas de idiotice globalizada. Sou ateu. Publico 'Budapeste' pelas editoras Salamandra em castelhano e La Magrana em catalão". LV - Sempre fugiu da fama? Chico - Não, participei de festivais e busquei o reconhecimento de meu trabalho. Mas depois vem a fama boba, oca, que é a sombra do reconhecimento e que cuida de se o artista está gordo ou com quem vai para a cama. Há 40 anos não era assim. LV - Como era? Chico - Veja, estávamos todos bêbados em

A grandeza de Nelson Ned

Um belo dia, em um programa de televisão (“Conexão Internacional”, da extinta Rede Manchete), Chico Buarque enviou uma pergunta para Gabriel García Márquez: “As suas preferências musicais causam espanto em muita gente, principalmente aqui no Brasil. Eu queria saber se os seus romances fossem música, seriam samba, tango, som cubano ou um bolero vagabundo mesmo?”. Com elegância e sem vergonha de suas preferências, o escritor colombiano respondeu: “Eu gostaria que fossem um bolero composto por você e cantado pelo Nelson Ned”. Pela terceira vez (haverá ainda um quarto texto), recorro a “Eu não sou cachorro, não”, livro de Paulo César Araújo para relatar causos de nossa cultura popular. Pouco antes da resposta de Gabo a Chico, fico sabendo ainda que o Nobel de Literatura escreveu “Crônica de uma morte anunciada” ao som de canções como “Tudo passará”, do grande pequeno cantor brasileiro, cuja obra em geral é relegada aos rótulos de “cafona” e “brega” de nossa discografia. Nelson Ned é figura

A bela goela do Amigão

Deve ter pelo menos uma meia dúzia de motivos pra eu gostar de futebol. Um deles se chama José Silvério. Suas narrações de gols do Tricolor e da Seleção, pelo rádio, fizeram parte da minha infância, especialmente nos tempos em que grande parte dos jogos não era transmitida pela TV. Explicitada minha admiração pelo “Pai do gol”, há algum tempo uma questão vinha me afligindo: ninguém no rádio esportivo brasileiro conseguiu chegar perto de seu grito de gol. Há vozes mais bonitas (mas sem emoção), vozes com dicções de primeira (porém muito formais) e outras que são simplesmente horríveis. No entanto, para minha satisfação, de uns tempos pra cá já tenho meu segundo favorito: trata-se do grande Paulo Soares, o Amigão. Quem acompanha a ESPN Brasil já o conhece há tempos como apresentador televisivo, mas foi só com a chegada da Estadão/ESPN, nos 92,9 FM, é que fui conhecer seu talento como narrador no rádio. A primeira vez em que reparei na agilidade, na criatividade e na potência vocal do Am

Folha e a ditadura: um editorial vexaminoso

Quem acompanha mais de perto a história do jornalismo já deixou para trás há tempos aquela imagem de que os veículos de comunicação do país combateram a ditadura, sofreram com a censura e todos os etc dessa lenga-lenga. Quem não acompanha ainda mantém grande parte dessa ilusão, alimentada, em grande medida, pela própria mídia. Os jornais que estão aí até hoje foram apoiadores de primeira hora do golpe – os que não foram acabaram desaparecendo aos poucos ou relegados a espaços alternativos. Já não é de hoje que se sabe que órgãos da repressão como o DOPS chegaram a usar automóveis do Grupo Folha em determinadas ações. Só quando o regime militar já se mostrava enfraquecido, no começo dos anos 80, é que coube à Folha assumir, numa bela jogada de marketing, a fama de “o jornal das Diretas”. Dois parágrafos longos depois, me remeto novamente à bela pesquisa feita por Paulo César Araújo em seu “Eu não sou cachorro, não”, livro citado aqui neste blog na semana passada. Ao falar da pecha de v

Paulo José: teatro, cinema, classe média e Parkinson

Paulo José, mais lúcido do que nunca aos 74 anos, deu uma bela entrevista à “Folha” neste domingo. Algumas frases me chamaram bastante a atenção e por isso as reproduzo aqui. Sobre o teatro brasileiro, após elogiar os textos de Gorki, Brecht, Boal e Guarnieri: “… os dramaturgos ainda tratam demais da sua realidade de classe média, estão voltados para o próprio umbigo. […] A temática da classe média é muito chata, o teatro foi invadido por ela. Não consigo fazer uma peça que agrade muito ao público”. Sobre o mal de Parkinson: “O irritante é ser tratado como criança pelas enfermeiras do hospital. ‘Chegou a sopinha, vovô vai tomar a sopinha dele agora!’ Porra, caralho, que sopinha o quê! […]Algumas pessoas dizem: ‘Estimas de melhoras, viu?’ Que melhoras, porra, eu tenho uma doença degenerativa!” Sobre cinema em geral: “As pessoas estão viciadas em uma certa linguagem de cinema americano. O [consultor] Syd Field é o mestre do roteiro, do ‘como fazer um filme igual a muitos outros que você

Sobre divórcio, aborto, retrocessos e desenvolvimento

“Dos 133 países membros da ONU em 1977, o Brasil integrava o pequeno grupo dos seis que ainda não haviam adotado a lei do divórcio; os outros cinco países – todos católicos – eram: Paraguai, Chile, Argentina, Espanha e Irlanda. E segundo dados apresentados pelos membros da Campanha Nacional Pró-Divórcio existiriam naquela época no Brasil cerca de 12 milhões de pessoas, entre desquitadas e simplesmente separadas, à espera de solução para seu problema”. “O divórcio é o capricho dos instintos insaciáveis”. “O brasileiro que está a favor do divórcio é um Silvério dos Reis, um traidor, porque a estabilidade da Pátria é a estabilidade da família”. “O homem não tem o direito de separar o que Deus uniu”. “Uma lei subversiva em relação à ordem natural, extremamente prejudicial ao homem e à sua convivência social”. Todos os trechos acima foram retirados do livro “Eu não sou cachorro, não”, do historiador e jornalista Paulo César Araújo – o mesmo que fez a biografia que Roberto Carlos c