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Mostrando postagens de 2011

Maurício, o pequeno cantor

O trecho que digito logo abaixo é retirado do livro “Adoniran, uma biografia”, de Celso de Campos Jr., sobre o grande sambista paulista. Aproveito pra desejar um feliz 2012 à meia dúzia de leitores que passam por aqui de vez em quando. "Com doze anos, o menino Maurício já tinha alguma experiência em programas de calouros – na verdade, vinha participando regularmente dessas disputas desde que a irmã Mariza, a cantora mirim da família, tivera uma crise de bronquite pouco antes de uma apresentação. Na ocasião, para preencher a lacuna, o mano, dois anos mais velho, encarou o microfone e fez bonito, ganhando o primeiro prêmio. [...] Naquela manhã de domingo de 1947, a apresentação seria especial. Pelo roteiro traçado pela mãe do garoto, chegara a hora do pupilo apresentar-se no programa de calouros da Rádio Record, “a Maior”, uma das líderes de audiência do rádio paulistano. [...] Para aquela audição, Maurício escolhera nada menos que a épica “Granada”, do compositor mexicano Agustín L

Dezesseis toneladas

Manja o Funk Como le Gusta? Então...

O novo Morumbi

Cobertura, novo museu para o maior vencedor de títulos do país, arena multiuso, hotel, centro de convenções, além da boa estrutura que já existe (bar, loja, academia, livraria, restaurante, buffet infantil). Parece que vai ficar bom... e sem as maracutaias de sempre!

Tênis: as melhores jogadas de 2011

A Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) divulgou nesta semana um vídeo de seis minutos com as oito melhores jogadas de 2011. Djokovic e Nadal – merecidamente, pelo ano que fizeram – aparecem com duas jogadas cada. Há também uma do Federer, uma do Ferrer, uma do López e uma do duplista Bob Bryan. A do Nadal no saibro, contra o Djokovic, é minha preferida. Confira abaixo: Melhores jogadas do ano da ATP

Abreviações

Dia desses, ao ver que o sobrinho de um amigo terminara seu processo de alfabetização, me peguei pensando em como cada criança tem suas dificuldades nessa fase fundamental. Cria-se um verdadeiro novo mundo diante dos olhos dos pequenos. Aquilo que até poucos meses atrás parecia como um código indecifrável passa a ter sentido. E, quando o sentido não surge, o bê-á-bá permite que apareçam inúmeras interrogações em seus pequenos (e tão borbulhantes!) cérebros. Até hoje é frequente eu me flagrar com um sorriso ao me deparar com algumas palavras que me pareciam indecifráveis. Nem sempre os pais, algum adulto ou colegas mais velhos estão por perto para ajudar. Desde os quatro ou cinco anos até o início da adolescência eu apresentava certa incompreensão em relação às abreviaturas surgiam pela cidade, nos livros, nas propagandas de TV, gibis e em tudo que estivesse cheio de letras e estivesse ao alcance dos meus olhos. A primeira delas sem dúvida foi a palavra “limitada”, sempre ao final do no

Bethânia, Chico e um show histórico

"Rosa dos Ventos" "Baioque" "Maninha" "Roda Viva" "Cala a Boca Bárbara" "Tira as Mãos de Mim" "Cálice" "Brejo da Cruz" "Gente Humilde" "Apesar de Você" "Gota d'Água" "Sonho Impossível" "Minha História" "Beatriz" (instrumental) "Terezinha" "Cotidiano" "Sem Açúcar" "Valsinha" "João e Maria" "Quem Te Viu, Quem Te Vê" "A Noite dos Mascarados" "A Rita" "Olhos nos Olhos" "Tatuagem" "Vida" "Olê Olá" "Sem Fantasia" (no telão) "Todo o Sentimento" "Não Existe Pecado ao Sul do Equador" "A Banda" "Chico Buarque da Mangueira" Intérprete favorita + compositor predileto + as 31 músicas acima. O texto poderia parar por aqui, sem quaisquer adjetivos adicionais. Mas o show desta terça-feira (22)

Mário Lago, 100 – compartilhando as “Figueiríadas”

Por uma dessas coincidências, caiu em minhas mãos uma biografia de Mário Lago ("Boemia e política"), cujo centenário de nascimento ocorre na próxima semana, em 26 de novembro. Morto em 2002, sua figura tornou-se mais conhecida para os mais jovens como ator de novelas, mas sua trajetória de vida é riquíssima e está longe de se resumir às aparições na TV Globo. Mário Lago foi advogado, radialista, letrista de músicas como “Ai, que saudades da Amélia”, militante do PCB durante toda a vida. Quando criança, foi vizinho de muro de Villa-Lobos (!!), em cuja casa teve os primeiros contatos com a música clássica, ensinada pela esposa do grande compositor brasileiro. O livro de Monica Velloso deixa um pouco a desejar no que diz respeito à fluência da narrativa – a vida de Mário Lago mereceria uma pesquisa mais ampla e um texto mais trabalhado. Mas deixemos de lado as críticas para dar destaque a um detalhe muito bacana da vida do biografado: a verve poética utilizada como contestação p

Pedaço do Brasil que começa a aparecer – a filha do barbeiro

Diálogo ocorrido hoje, enquanto o barbeiro mandava ver na máquina 2: - Quando você voltou do Canadá passou um tempo nos Estados Unidos, né? - Sim, uns dois meses. - Em qual cidade? - Rodei pela Califórnia. - É que minha filha vai na semana que vem pra Flórida, em excursão com a escola. - Bacana, hein? - Sim, ela está toda ansiosa. E eu também. Foi meio complicado juntar US$ 2 mil, mas o pessoal tem cortado bastante o cabelo... Meu barbeiro, depois de uns três anos, finalmente reajustou o preço do seu trabalho: agora ele cobra R$ 13.

Pedaço do Brasil real – a senhorinha

Mais de 85% dos brasileiros recebem menos de R$ 1000 por mês. Eles fazem parte do Brasil real. Diálogo entre minha mãe e uma colega do grupo da terceira idade da igreja do bairro: — A senhora vai ao passeio do próximo dia 8? — Não posso. É bem o dia em que recebo minha pensão —, disse a senhorinha. — Ah, mas a senhora pode receber no dia seguinte, não? — Posso, mas eu também tenho que pagar a parcela do meu IPTU no dia 8. — Ué, mas a senhora não pode pagar um dia antes? — Poder eu posso, mas não tem jeito. São R$ 28 e eu tenho que esperar pelo pagamento pra ter esse dinheiro. Encerro aqui.

O Túmulo dos Kennedys está vazio?

Reproduzo abaixo texto do blog do meu camarada Ygor Moretti, o Moviemento , listado aqui à esquerda. Dead Kennedys, em especial o disco ao qual o post se refere, merece sempre ser lembrado. Segue abaixo: O Túmulo dos Kennedys está vazio? Começo dos anos 90, um adolescente com um disco de vinil branco nas mãos, dentro um encarte de quase 1 metro de comprimento repleto de fotos e imagens assustadoras de guerras, massacres, explosões e aberrações. Este é o mundo segundo a visão dos Dead Kennedys, uma banda norte americana de punk criada na década de 80. Aquelas eram imagens e informações a parte do que se tinha acesso, tempos de telefonia limitada, transmissão de informações lenta e restrita. Golpes militares por todo o planeta iam chegando ao fim, algumas décadas atrás as vanguardas chegavam ao fim. Tinham sido derrotadas, fracassadas ou chegaram ao “fim” porque tinham cumprido o seu papel? Contudo, fica no ar uma hipótese, uma idéia ainda oblíqua de liberdade, e justamente nesse cenário

Desabafo de uma bancária à Rede Globo

Publico aqui uma carta interessante da bancária Teresa Roberta Soares ao diretor de jornalismo da Rede Globo, Carlos Henrique Schroder, por conta da parcialidade da cobertura da emissora ao noticiar a greve dos bancários por todo o país. Acho alguns argumentos dela um pouco rasos, mas no geral trata-se de um texto muito bacana, que contrapõe a realidade dos bancários aos lucros exorbitantes que seus patrões têm a cada ano - além de como essa relação se reflete no atendimento que recebemos nas agências pelo Brasil afora. Segue abaixo a carta, com alguns negritos colocados por mim: Carta à Direção Globo de Jornalismo Sr. Carlos Henrique Schroder, É com grande insatisfação que escrevo aqui em nome de quase 500 mil bancários existentes no Brasil. Em primeiro lugar, gostaria de dizer que estamos indignados com o tratamento que os telejornais da Central Globo de Jornalismo, subordinada a sua Direção Geral de Jornalismo e Esportes (DGJE), estão dando a nossa greve. Todos os dias suas reportag

Juvenal, Andrés e o Mobral

"O problema do Andrés é o Mobral inconcluso" - Juvenal Juvêncio. Andrés Sanchez tem uns 342 motivos para ser criticado, mas ao dar essa declaração o presidente do São Paulo pisou feio, mas muito feio na bola. Sem exagero, foi a frase do mundo do futebol que mais me deixou envergonhado nos últimos tempos, daquelas que dão vergonha de reconhecer que foram ditas pela máxima autoridade do clube que a gente gosta. Em tempo: Mobral, ou Movimento Brasileiro de Alfabetização, foi uma iniciativa do governo, no final da década de 1960, com o propósito de extinguir o analfabetismo no país. Segundo o IBGE, ainda há mais de 9% de brasileiros que não sabem ler e escrever. Juvenal se comportou como o típico membro da elite brasileira, ao adotar uma postura de sujeito superior àquele que não pôde estudar devido ao domínio das normas cultas da língua portuguesa. Comentário babaca! Absolutamente lamentável! Ao mirar no presidente do Corinthians, o dirigente são-paulino acerta, na verdade, os m

Renato Russo – 11 de outubro

- Júnior, telefone pra você! Carminha chama o filho, que pega o telefone. Ligação do Rio de Janeiro. Do outro lado da linha, o diretor-artístico da EMI, Jorge Davidson. Ele ouvira falar de Renato durante as gravações do primeiro disco dos Paralamas do Sucesso. Quando o trio tocou “Química”, Davidson perguntou a Herbert: - Essa música é tua também? - Não, essa música é de um amigo meu de Brasília. Ele é tudo o que eu gostaria de ser. Herbert e Bi falam mais sobre Renato, Legião, Plebe, Capital; a cena brasiliense. Contam que “Ainda é cedo”, música que os Paralamas tinham começado a tocar nos shows, também era de Renato. Idem “Veraneio vascaína”. Incluem no disco “O que eu não disse”, nascida de harmonia criada por Herbert, desenvolvida por Barone, letra esboçada por Renato e formatada pelo guitarrista. Bi Ribeiro, então, descola com Pedro uma fita com gravações caseiras de Renato cantando e tocando violão. Depois de escutar o cassete, Davidson liga para Brasília e convida Renato. - Você

Educação em casa: Ziraldo dá a dica

Ziraldo deu uma entrevista à “Folha” neste domingo. Apesar de falar sobre outros assuntos (basicamente sobre o filme “Uma professora muito maluquinha”), o foco principal foi educação. Coloco abaixo o que me pareceu interessante. Em negrito vai o que achei bom demais (e ao mesmo tempo preocupante, pois o que tenho visto por aí é exatamente o contrário). Folha - O que acha da situação educacional brasileira? Ziraldo - O Brasil não tem 10% de analfabetos, tem 90%. Quem não lê jornal é analfabeto funcional, não está interessado em nada, é incapaz de se expressar pela escrita e entender o que está lendo . O pessoal está chegando ao vestibular analfabeto. E as escolas? A escola de antigamente não era risonha e franca como se diz por aí, isso é balela. A escola educava para a escola. Agora busca educar para a vida. A gente avançou. Mas há grandes equívocos. A principal prioridade, que é ensinar a ler, a escrever e a contar, foi esquecida . E os professores? O que salva é o heroísmo de alguns.

O que aconteceu com Rafinha Bastos?

Argumentação tão boa que resolvi chupinhar o texto aqui (prática que venho tentando evitar). Grande Marcelo Rubens Paiva! Destaco a comparação com os gênios do humor. Segue abaixo: O que aconteceu com RAFINHA BASTOS? Conheci o cara, meu vizinho, em palcos de stand-up, quando o gênero engatinhava. Ele dividia bem as tarefas de entreter com DANILO GENTILI, MARCELO MANSFIELD, OSCAR FILHO e outros. A produção do CQC fez um golaço quando o contratou para a bancada. Regida pelo meu amigo e experiente MARCELO TAS. Então, você conhece a cronologia dos eventos. Estouro no TWITTER, reconhecimento do NYT, DVD entre os mais vendidos, teatros lotados. Sucesso, ao ponto de ter o próprio teatro, numa Rua Augusta em alta. E a mão começou a pesar na redação dos seus textos e dos 140 caracteres. Piadas ofensivas, de mau gosto, rejeitadas amplamente. O que causou um debate sobre os limites do humor. Que se lembre, CHAPLIN nunca teve uma piada rejeitada. Nem IRMÃOS MARX. Nem 3 PATETAS. Nem WOODY ALLEN. Ne

PES x FIFA – ou uma briga que parece a de petistas x tucanos

O papo agora é sobre videogame. Mais especificamente, sobre jogos de futebol para videogame. Você que curte também, já reparou na picuinha que existe por aí entre adeptos do Pro Evolution Soccer (PES) e da série FIFA? Em alguns casos, os defensores de cada franquia parecem petistas e tucanos em época de eleição: sobra intransigência para todos os lados, especialmente nos botecos virtuais em que se transformaram os fóruns de algumas páginas da internet. Aviso logo: sou da turma do PES e não abro. No ano passado até me arrisquei no FIFA 11, mas a experiência só serviu para mostrar o quanto me adapto mais ao jogo que no Brasil por muito tempo era chamado como Winning Eleven – nome que era dado por sua fabricante no Japão e que só depois de algum tempo foi deixado de lado pelos brasileiros. As trocas de farpas entre os “fifistas” e “pesistas” estão a todo vapor desde a semana passada, quando vários sites noticiaram a data exata do lançamento da versão 2012 de ambos (27 de setembro). É óbvi

Chico fala sobre racismo: "O brasileiro não aceita o fato de ser mestiço"

O vídeo abaixo não é novo – se não me engano é de 2006 – e faz parte daquela coleção de 12 DVDs sobre a obra do Chico. Quando vi a fala aqui selecionada, me lembro que fiquei falando sobre esse depoimento por umas duas semanas, quase monotemático. O assunto é racismo e a hipocrisia do brasileiro em relação a isso. Chico, como se tornou praxe em seus depoimentos para documentários, mescla sensatez com um bocado de bom humor. Ironiza os brasileiros que se acham "brancos", relata o mal-estar sofrido por sua família depois que uma de suas famílias se casou com Carlinhos Brown e define como hipócritas aqueles que não veem racismo em nossa sociedade. Em resumo, daqueles vídeos que valem a pena rever de tempos em tempos (se possível, assista aos 12 DVDs - vale BEM a pena!).

A "Trilha das lágrimas" - um capítulo vergonhoso da história dos EUA

Reproduzo abaixo um trabalho feito no ano passado para a disciplina de "História dos Estados Unidos". Trata-se de uma pesquisa feita sobre a "Trilha das lágrimas", episódio acontecido no século XIX e que mostra uma das facetas da construção da "democracia" norte-americana. Se alguém se interessar pelo tema e precisar das fontes (não coloquei aqui as notas de rodapé), é só mandar uma mensagem. UMA DEMOCRACIA BRANCA A “Trilha das Lágrimas” e a política do governo Andrew Jackson em relação aos povos indígenas norte-americanos Uma mera entrevista, concedida por um dos chefes indígenas da tribo dos Choctaw, permitiu que um repórter do jornal "Arkansas Gazette" registrasse uma expressão que viria a entrar – de modo nada honroso – para a história dos Estados Unidos. Ao ser questionado sobre o processo de remoção de seus pares para a região de Little Rock, em conformidade à política imposta pelo governo norte-americano em 1830, o “pele vermelha” (de nome

House, 8ª temporada: que seja a última!

A nova temporada de “House” começa oficialmente no dia 3 de outubro, mas o episódio inicial já vazou. O próprio Hugh Laurie já sinalizou, em recente entrevista, que provavelmente este é o último ano da série. Até um tempo atrás essa ideia me desanimava um pouco. Depois de assistir ao novo episódio, mudei de opinião. “House” continua sendo uma das melhores coisas da TV norte-americana, sem sombra de dúvida. Mas a fórmula está esgotada. É preciso que os roteiristas encontrem uma forma digna de encerrar a série, no mínimo para fazer jus ao excelente nível das primeiras temporadas e de alguns episódios eventuais a partir do sexto ano. Os diálogos continuam bons, a atuação de Laurie segue excelente, ainda consigo me divertir e me impressionar com a trama, mas falta algo. Até dado momento (talvez até meados do sexto ano) a evolução psicológica do protagonista vinha se sustentando muito bem, mas no decorrer da sétima temporada aparentemente houve uma perda de rumo muito grande – com direito a

Três do Chico

Fuçando em e-mails antigos, achei os textos do blog anterior, encerrado em 2006. Peguei três deles – todos com alguma menção ao Chico Buarque, já que fazia tempo que não publicava nada sobre ele aqui – e joguei num post só: 2004 - Entrevista ao “La Vanguardia” O compositor resume o atual momento de sua vida: "Tenho 60 anos. Nasci e vivo no Rio de Janeiro. Estou separado e tenho três filhas, duas netas e meia e um neto: Chico. Sou um democrata que ainda crê na possibilidade de um socialismo democrático. Já vivemos quase duas décadas de idiotice globalizada. Sou ateu. Publico 'Budapeste' pelas editoras Salamandra em castelhano e La Magrana em catalão". LV - Sempre fugiu da fama? Chico - Não, participei de festivais e busquei o reconhecimento de meu trabalho. Mas depois vem a fama boba, oca, que é a sombra do reconhecimento e que cuida de se o artista está gordo ou com quem vai para a cama. Há 40 anos não era assim. LV - Como era? Chico - Veja, estávamos todos bêbados em

A grandeza de Nelson Ned

Um belo dia, em um programa de televisão (“Conexão Internacional”, da extinta Rede Manchete), Chico Buarque enviou uma pergunta para Gabriel García Márquez: “As suas preferências musicais causam espanto em muita gente, principalmente aqui no Brasil. Eu queria saber se os seus romances fossem música, seriam samba, tango, som cubano ou um bolero vagabundo mesmo?”. Com elegância e sem vergonha de suas preferências, o escritor colombiano respondeu: “Eu gostaria que fossem um bolero composto por você e cantado pelo Nelson Ned”. Pela terceira vez (haverá ainda um quarto texto), recorro a “Eu não sou cachorro, não”, livro de Paulo César Araújo para relatar causos de nossa cultura popular. Pouco antes da resposta de Gabo a Chico, fico sabendo ainda que o Nobel de Literatura escreveu “Crônica de uma morte anunciada” ao som de canções como “Tudo passará”, do grande pequeno cantor brasileiro, cuja obra em geral é relegada aos rótulos de “cafona” e “brega” de nossa discografia. Nelson Ned é figura

A bela goela do Amigão

Deve ter pelo menos uma meia dúzia de motivos pra eu gostar de futebol. Um deles se chama José Silvério. Suas narrações de gols do Tricolor e da Seleção, pelo rádio, fizeram parte da minha infância, especialmente nos tempos em que grande parte dos jogos não era transmitida pela TV. Explicitada minha admiração pelo “Pai do gol”, há algum tempo uma questão vinha me afligindo: ninguém no rádio esportivo brasileiro conseguiu chegar perto de seu grito de gol. Há vozes mais bonitas (mas sem emoção), vozes com dicções de primeira (porém muito formais) e outras que são simplesmente horríveis. No entanto, para minha satisfação, de uns tempos pra cá já tenho meu segundo favorito: trata-se do grande Paulo Soares, o Amigão. Quem acompanha a ESPN Brasil já o conhece há tempos como apresentador televisivo, mas foi só com a chegada da Estadão/ESPN, nos 92,9 FM, é que fui conhecer seu talento como narrador no rádio. A primeira vez em que reparei na agilidade, na criatividade e na potência vocal do Am

Folha e a ditadura: um editorial vexaminoso

Quem acompanha mais de perto a história do jornalismo já deixou para trás há tempos aquela imagem de que os veículos de comunicação do país combateram a ditadura, sofreram com a censura e todos os etc dessa lenga-lenga. Quem não acompanha ainda mantém grande parte dessa ilusão, alimentada, em grande medida, pela própria mídia. Os jornais que estão aí até hoje foram apoiadores de primeira hora do golpe – os que não foram acabaram desaparecendo aos poucos ou relegados a espaços alternativos. Já não é de hoje que se sabe que órgãos da repressão como o DOPS chegaram a usar automóveis do Grupo Folha em determinadas ações. Só quando o regime militar já se mostrava enfraquecido, no começo dos anos 80, é que coube à Folha assumir, numa bela jogada de marketing, a fama de “o jornal das Diretas”. Dois parágrafos longos depois, me remeto novamente à bela pesquisa feita por Paulo César Araújo em seu “Eu não sou cachorro, não”, livro citado aqui neste blog na semana passada. Ao falar da pecha de v

Paulo José: teatro, cinema, classe média e Parkinson

Paulo José, mais lúcido do que nunca aos 74 anos, deu uma bela entrevista à “Folha” neste domingo. Algumas frases me chamaram bastante a atenção e por isso as reproduzo aqui. Sobre o teatro brasileiro, após elogiar os textos de Gorki, Brecht, Boal e Guarnieri: “… os dramaturgos ainda tratam demais da sua realidade de classe média, estão voltados para o próprio umbigo. […] A temática da classe média é muito chata, o teatro foi invadido por ela. Não consigo fazer uma peça que agrade muito ao público”. Sobre o mal de Parkinson: “O irritante é ser tratado como criança pelas enfermeiras do hospital. ‘Chegou a sopinha, vovô vai tomar a sopinha dele agora!’ Porra, caralho, que sopinha o quê! […]Algumas pessoas dizem: ‘Estimas de melhoras, viu?’ Que melhoras, porra, eu tenho uma doença degenerativa!” Sobre cinema em geral: “As pessoas estão viciadas em uma certa linguagem de cinema americano. O [consultor] Syd Field é o mestre do roteiro, do ‘como fazer um filme igual a muitos outros que você

Sobre divórcio, aborto, retrocessos e desenvolvimento

“Dos 133 países membros da ONU em 1977, o Brasil integrava o pequeno grupo dos seis que ainda não haviam adotado a lei do divórcio; os outros cinco países – todos católicos – eram: Paraguai, Chile, Argentina, Espanha e Irlanda. E segundo dados apresentados pelos membros da Campanha Nacional Pró-Divórcio existiriam naquela época no Brasil cerca de 12 milhões de pessoas, entre desquitadas e simplesmente separadas, à espera de solução para seu problema”. “O divórcio é o capricho dos instintos insaciáveis”. “O brasileiro que está a favor do divórcio é um Silvério dos Reis, um traidor, porque a estabilidade da Pátria é a estabilidade da família”. “O homem não tem o direito de separar o que Deus uniu”. “Uma lei subversiva em relação à ordem natural, extremamente prejudicial ao homem e à sua convivência social”. Todos os trechos acima foram retirados do livro “Eu não sou cachorro, não”, do historiador e jornalista Paulo César Araújo – o mesmo que fez a biografia que Roberto Carlos c

O melhor rum do mundo

O camarada Laldert havia cantado a bola, antes de minha viagem para a Nicarágua: o país tem a fama de produzir o melhor rum do mundo – superior até mesmo aos famosos cubanos. Chegando a Manágua, logo de cara tratei de ir atrás de mais informações. Já no aeroporto, as conversas com alguns vendedores deixaram claro que minha busca seria pelo famoso “Flor de caña". Uma rápida navegada me mostrou que o tal rum é reconhecido como o melhor de sua espécie em todo o mundo. Na primeira oportunidade, no próprio bar do hotel, pedi um trago do rótulo de sete anos. Delícia! No dia seguinte, arrisquei o de 12 anos: surpresa das grandes, pois descia sem qualquer arranhão na garganta, um cheiro sensacional e um gosto que não deixava a dever a qualquer uísque da mesma idade. A companhia “Flor de caña” produz seu néctar desde 1937, mas somente depois de duas décadas passou a ser exportado. Leio pelos www da vida que desde 2000 seu carro-chefe (18 anos) já ganhou mais de cem eleições, contra concorr

SBT chega aos 30 anos: memórias afetivas

Fui um indivíduo sem a TV Globo em casa durante grande parte da infância. Por pelo menos oito ou nove anos, as imagens da emissora só apareciam com uma qualidade terrível no velho televisor Sharp de 17 polegadas da minha sala, condição que levava o povo de casa a ver esportes na Bandeirantes, jornalísticos em qualquer canal e programas de entretenimento no SBT. Praticamente não vi “Caverna do Dragão”, “He-Man”, “Xou da Xuxa” e “Família Dinossauro”, programas que quem tem entre 25 e 35 anos costuma se lembrar com saudade. Não me lembro de quase nada do ”Fantástico”; dos “Trapalhões” eu me recordo somente pelos domingos passados nas casas de amigos ou parentes. O “boa noite” do Cid Moreira não me traz qualquer nostalgia, assim como certas vinhetas que até hoje são utilizadas pela Globo. Em virtude disso, minha formação televisa foi composta por extremos durante a infância e a pré-adolescência. Por um lado, “Programa livre”, “Rá-tim-bum”, “Bambalalão”, “Anos incríveis”, “Mundo de Be

Caetano, Gil e as lágrimas de Luiz Gonzaga

O Rei do Baião teve seu auge de popularidade ao longo das décadas de 40 e 50. Gonzagão entrou nos 1960’s com um tipo de fama mais concentrada no Nordeste e em alguns bairros nordestinos de São Paulo e Rio de Janeiro. A imprensa, que antes o reverenciava, simplesmente deixou de citá-lo e de entrevistá-lo – por conseguinte, a classe média também se esqueceu do cantador. Juscelino saiu, surgiu a bossa nova, veio Jânio e Jango, vieram os militares, o Cinema Novo e uma turma da pesada no cenário musical. No meio desses novos artistas, dois deles resolveram dar crédito a uma de suas principais influências. “Seu nome se inscreve na galeria dos grandes inventores da música popular brasileira, como aquele que, graças a uma imaginativa e inteligente utilização de células rítmicas extraídas do pipocas dos fogos, de moléculas melódicas tiradas da cantoria lúdica ou religiosa do povo caatingueiro, e sobretudo da alquímica associação com o talento poético e musical de alguns nativos nordestino

O pior dos aniversários

Foi em 1998. Havia toda uma expectativa pela chegada dos 18 anos: maioridade, carteira de habilitação, entrada em motéis. Mas havia também o alistamento militar. E, para minha total infelicidade, a data para apresentação no quartel de Quitaúna, em Osasco, coincidiu com meu 18º aniversário. Era uma segunda-feira. Como várias segundas-feiras de agosto, um dia horrível para sair da cama – especialmente pela necessidade de dar as caras no quartel às 6h e acordar às 4h30. Garoava às 5h50. O frio não era tão intenso, mas incomodava. Os possíveis novos recrutas chegavam acabrunhados. Alguns, cheios de si, aos poucos eram reconduzidos à insignificância que lhes cabia naquele recinto, após rajadas daquilo que hoje chamam de bullying. Outros apareciam com visuais que não condiziam ao ambiente da caserna: punks, nerds, gays e cabeludos recebiam tratamento especial dos soldados que, um ano antes, provavelmente aparentavam o mesmo desconforto que eu sentia. Até que passei pelo ritual de re

Happy birthday, mr. Obama!

Com quatro dias de atraso, reproduzo aqui a declaração de Bill Maher, comentarista político norte-americano, por conta do aniversário de 50 anos de Barack Obama. “Desejaria que o senhor parasse de querer agradar aos conservadores. Não vai funcionar jamais. Para eles, o senhor tem a idade errada, está no partido errado, tem a cor de pele errada. Ainda que os salvasse, pessoalmente, de morrerem afogados, 40% dos norte-americanos não votariam no senhor. Não se preocupe em passar uma imagem de negro radical, que afastaria eleitores moderados. Meu caro, pior do que está, impossível. Não seria uma vergonha se quatro anos de seu governo terminem em janeiro sem que o senhor tenha experimentado sequer uma política econômica elaborada pelos democratas? O senhor agora é um cinqüentão, faça isso pelo senhor e por nós. E um feliz aniversario!” Retirei esse trecho de uma matéria desta semana da “CartaCapital”, na qual outro dado me chamou a atenção: atualmente, 25 milhões de norte-americanos p