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Mostrando postagens de dezembro, 2009

Roberto Carlos do Brasil

A piada é batida, mas sempre cai bem. Dizem que há três coisas certas em nossas vidas: a morte, o pagamento de impostos e o especial de final de ano do Roberto Carlos na Globo. Pois bem. Cantarolei baixinho 11 das 15 músicas interpretadas pelo Rei nesta sexta-feira. Ao escrever essa última frase não sei se sinto orgulho ou vergonha, tal qual acontece quase sempre que penso no quanto gosto da obra do Robertão. Roberto é musicalmente limitado, mas canta pra cacete. A maioria de suas letras (mesmo na fase áurea) é extremamente simples, mas nem por isso deixam de ser bacanas – sendo que algumas, por mais paradoxal que possa parecer, chegam a beirar a genialidade. Sua religiosidade e manias me irritam, mas o que eu tenho a ver com isso? Como é possível ouvir "Detalhes" pela 5432ª vez e mesmo assim parar pra prestar um pouco mais de atenção em determinado verso? Como é possível ter na memória cada acordezinho de "Emoções", se ela não está nem entre as mnhas 30 favoritas d

Racismo, imprensa, história

Duas recente conversas – uma sobre racismo, outra sobre desigualdade – me remeteram a um arquivo muito bacana que circulou pela internet há alguns anos. Faço questão de colá-lo aqui pela excelente sacada, embora não saiba exatamente quem é seu autor. Em tempos nos quais jornalistas metidos a intelectuais tentam enfiam goela abaixo a ideia de que "não somos racistas", nunca é demais lembrar um pouquino da recente história do Brasil pra entender um pouco do que acontece ao nosso redor.

Lula x Collor: 20 anos

Dá até um nó na garganta lembrar que hoje se completam exatos 20 anos da eleição mais importante da recente história do Brasil. Talvez as vitórias de Fernando Henrique e Lula, em 1994 e 2002, respectivamente, serão lembradas no futuro como fatos mais significativos, mas a esta altura do campeonato - e por tudo que cerca a disputa de 1989 - eu ainda fico com a vitória de Collor como a mais importante. Um texto escrito por aqui há exatamento um ano mostra que a data, em minha memória afetiva, não traz boas recordações. E, por mais contraditório que possa parecer, creio que a vitória de Collor foi algo benéfico para o Brasil, diante das circunstâncias daquele segundo turno. A vitória de Lula teria sido uma catástrofe - e quem escreve isso é um defensor do atual governo e da maior parte das decisões tomadas pelo presidente ao longo de seu mandato. Eleito em 1989, Lula faria com que toda e qualquer futura candidatura de esquerda se tornasse fadada ao fracasso até o século 22 no Brasil, ta

Sobre djavanês e regravações infelizes

Ontem ao ver um trecho do sempre bacana "Sr Brasil", com Rolando Boldrin, lembrei do velho texto "O homem que sabia djavanês", cujo autor nunca descobri. Pra quem não conhece, aí vai. Depois eu concluo o post. O homem que sabia djavanês Eu tinha chegado fazia pouco ao Rio de Janeiro e estava literalmente na miséria. Vivia fugindo de casa de pensão em casa de pensão, sem saber onde e como ganhar dinheiro. Até que um dia, lendo "O Globo", deparei com este anúncio: "Precisa-se de um professor de djavanês". A audição das músicas de DJ Avan sempre provocou em mim puro mal- estar físico. Mas, enfim, precisava de grana e decidi fazer o possível para vencê-lo. Naquela semana, fui a todos os barezinhos com música ao vivo da idade. Perdi a conta de quantas vezes escutei "e o meu jardim da vida ressecou, morreu" ou "amar é um deserto e seus temores". Foram sete dias de tortura; contudo, saí deles com o djavanês na ponta da língua. Em vez

Um bom exemplo de onde menos se espera

Leio no blog do Cosme Rímoli os bastidores da contratação do novo técnico do Vasco, Vagner Mancini. Segundo o repórter, um dos nomes cogitados a assumir o cargo era o ex-zagueiro e ex-diretor do Corinthians Antônio Carlos, que teria sido vetado por uma das torcidas organizadas do clube. Em geral fico puto com esse tipo de ingerência e poder atribuído a um bando de vândalos. Mas eis que agora os caras mandaram muito bem. O movivo alegado? O Vasco não pode ter um racista em seu comando. Sim, se valeram da história gloriosa do Vasco, o primeiro grande clube brasileiro a aceitar, ainda na década de 20, que negros vestissem sua camisa. E não se esqueceram do lamentável episódio em que Antônio Carlos, em final de carreira, jogando pelo Juventude, foi flagrado fazendo um gesto racista contra o volante Jeovânio, à época no Grêmio. Segundo a reportagem, Antônio Carlos já estava se preparando para mudar com sua familia ao Rio de Janeiro. Contra racistas é preciso pegar pesado mesmo. Que outros c

Sobre educar e deseducar

I Volto novamente a "Infância", pequena obra prima de Graciliano Ramos: "A professora tinha mãe e filha. A filha [...] nos ensinava as lições, mas nos ensinava de tal forma que percebemos nela tanta ignorância como em nós". II Insisto com o mesmo livro, me valendo, agora, de um trecho mais longo: "Ora, uma noite, depois do café, meu pai me mandou buscar um livro que deixara na cabeceira da cama. Novidade: meu velho nunca se dirigia a mim. [...] Espantado, entrei no quarto, peguei com repugnância o antipático objeto e voltei à sala de jantar. Aí recebi ordem para me sentar e abrir o volume. Obedeci engulhando, com a vaga esperança de que uma visita me interrompesse. Ninguém nos visitou naquela noite extraordinária. Meu pai determinou que eu iniciasse a leitura. Principiei. Mastigando as palavras, gaguejando, gemendo uma cantilena medonha, indiferente à pontuação, saltando linhas e repisando linhas, alcancei o o fim da página, sem ouvir gritos. Parei surpreendido

Sobre aids, banho, culturas diferentes e ufanismo

Dia desses, num papo bem tonto com fundamento sério, falava com um amigo sobre a probabilidade de conhecer alguma moçoila portadora do HIV e ter um caso com dita cuja. A conversa surgiu logo depois da publicação de duas pesquisas: uma falando sobre a quantidade de pessoas com aids no mundo; a outra sobre o mesmo assunto, mas apenas no Brasil. A parte tonta do papo veio da "conclusão" de que é preciso ser miseravelmente azarado para sair com alguma HIV positivo e contrair o vírus - segundo a pesquisa, há cerca de 34 milhões de pessoas infectadas no mundo, cerca de 500 mil no Brasil. Levando-se em conta que há umas 6 bilhões de pessoas nos cinco continentes e 200 milhões por aqui, os matemáticos podem finalizar a conta, algo que a cerveja não permitiu que concluíssemos. Enfim, toda essa enrolação tonta é pra chegar nuns números realmente alarmantes, vistos numa matéria da CartaCapital desta semana, sobre o descontrole da aids na África do Sul, sede da próxima Copa do Mundo. Va

Irresponsável, hipócrita, vendilhão

A cada semana ganho um novo argumento contrário a relgiosos e suas religiões, quaisquer sejam elas. A bola da vez é o imortal padre Marcelo Rossi, aquele que, quando todos imaginam estar recluso a seus deveres sacerdotais, reaparece erguendo as mãos ou, o que é pior, falando asneiras. São Paulo, Palmeiras, Santos e Corinthians se uniram em torno de uma marca, o G4, com a finalidade de aproveitar, de maneira mais eficaz, o potencial de marketing dessas quatro marcas. A Kaiser é a primeira das empresas a dispor de alguma bufunfa, em troca de certa visibilidade já no Campeonato Paulista deste ano. Junto dessa turma toda, eis que aparece Marcelo Rossi, fazendo sei-lá-o-quê! Até aí, a besteira era só visual. Os quatro clubes, preocupados em agradar o patrocinador, defenderam a volta da venda de cerveja nos estádios de futebol. Em seguida, algum bendito repórter decidiu perguntar a opinião do padre sobre o tema. Aí veio a pérola: "As bebidas fermentadas são toleradas pela igreja. O prob

Bom dia... aqui é o apartamento do presidente?

Leio no blog do Lauro Jardim que Lula andava puto da vida com a qualidade de transmissão de sua TV por assinatura, tanto em São Bernardo quanto no Palácio do Planalto. Nos dois casos, a empresa responsável pelo sinal é a Sky. Como já era de se esperar, a Sky tratou de resolver o problema da melhor e mais rápida forma possível, tal a importância de seu cliente. Por um segundo, no entanto, fiquei pensando aqui como se daria o processo de envio de um técnico para atender ao presidente. Pense no gerente que escolhe os técnicos que vão à casa de Lula em S. Bernardo. E se alguma coisa dá errado? Talvez fosse melhor ir pessoalmente? Optaria pelo "funcionário do mês" pra não dar margem alguma eventual cagada?

O futebol e a relação pai-e-filho

O sábio Renato Torelli costuma ser enfático: "O filho que não torce para o mesmo time que o pai provavelmente teve algum tipo de lacuna em sua criação". Descontados os pais que torcem para a Portuguesa, a frase do velho Torellão costuma ser verdadeira. Admito até ter um pouco de receio de deixar de gostar de futebol depois que Damasceno-Pai se for, já que há algum tempo o esporte por si só não apresenta grandes atrativos - pelo contrário até. Fiquei pensando nisso ao ler a respeito de um novo livro que estará nas melhores livrarias esta semana: "Os dez mais do São Paulo", do jornalista Arnaldo Ribeiro. A ideia é relativamente simples: ele fez uma enquete com um bocado de são-paulinos ilustres, de diferentes faixas etárias, e a partir daí fez seu top 10. Eis os escolhidos, pela ordem de votação: 1. Raí 2. Rogério Ceni 3. Canhoteiro 4. Pedro Rocha 5. Careca 6. Roberto Dias 7. Leônidas da Silva 8. Darío Pereyra 9. Serginho Chulapa 10. Bauer Dos dez, infelizmen

Outro país dentro do Brasil

Ontem, num papo como sempre bacana com o velho amigo Hudsão, em determinado momento, falando sobre viver numa espécie de ilha chamada São Paulo, ele citou uma reportagem sobre a construção da primeira escada rolante da cidade de Porto Velho. Isso mesmo. Pode reler o parágrafo acima e ver se não há nada muito bisonho. Em tempo: Porto Velho é uma das 26 capitais de estado brasileiras. No caso, de Rondônia. A primeira escada veio com a inauguração do primeiro shopping center da cidade, no final de 2008. A obra é fruto do desenvolvimento que vem chegando à região no embalo da construção da usina do Rio Madeira. Até três anos atrás, Porto Velho tinha apenas cinco prédios com mais de cinco andares. Segundo reportagem da IstoÉ Dinheiro , a capital de Rondônia tem pouco menos de 400 mil habitantes. A prefeitura espera que, devido às obras da usina, mais 20 mil pessoas migrem para a cidade nos próximos meses. E, com elas, novas escadas rolantes...

"Vesti azul.... minha sorte então mudou"

A primeira vez que ouvi falar em Wilson Simonal foi no colégio - se não me engano, numa aula da Tia Idair, na quarta série. Por algum motivo, ela havia citado "Meu limão, meu limoeiro" e ninguém da classe sabia do que se tratava. Estupefata, ela cantarolou "... uma vez skindô lelê, outra vez skindô lalá" e tentou fazer algo no estilo que o "rei da pilantragem" costumamava aprontar com suas plateias . E deu certo. Dia desses fui ver "Simonal - Ninguém sabe o duro que eu dei", documentário muito bem feito sobre a carreira do sensacional cantor, com ênfase, claro, na eterna dúvida que o cercou desde os anos 70 até sua morte, em 2000: Simonal foi um dedo-duro dos militares durante a ditadura ou não? Pra quem não sabe do que se trata, um resumo curto e grosso: Simonal competia com Robertão na virada dos 60 para os 70 como o cantor mais popular do Brasil. Um belo dia, seu nome aparece nos jornais como delator de companheiros de profissão, alguém a serv

Terteão

"A preguiça é a chave da pobreza – Quem não ouve conselhos raras vezes acerta – Fala pouco e bem: ter-te-ão por alguém". Esse Terteão para mim era um homem, e não pude saber que fazia ele na página final da carta. As outras folhas se desprendiam, restavam-me as linhas em negrita, resumo da ciência anunciada por meu pai. – Mocinha, que é o Terteão? Mocinha estranhou a pergunta. Não havia pensado que Terteão fosse homem. Talvez fosse. "Fala pouco e bem: ter-te-ão por alguém". – Mocinha, que quer dizer isso? Mocinha confessou honestamente que não conhecia Terteão. E eu fiquei triste, remoendo a promessa de meu pai, aguardando novas decepções. "Infância" - Graciliano Ramos

Os compatriotas de Woody Allen

Estava em algum site por aí hoje: O diretor americano Woody Allen considera que a maioria de seus compatriotas são gordos e sexualmente complexados. "Tudo ali é expressão do medo e da repressão sexual: a loucura religiosa, o fanatismo pelas armas, a extrema-direita louca. Eles têm uma visão da sexualidade marcada por duvidosas leis morais", afirma Allen, em entrevista antecipada hoje pelo jornal "Die Zeit". O diretor de "Vicky Cristina Barcelona" considera que o sexo é utilizado nos Estados Unidos "como uma arma dramática, assim como a violência" e que as muitas cenas de sexo nos filmes produzidos em seu país são "simplesmente entediantes".

Amar é...

Mulher feliz lava a louça. Ou cozinha com gosto. Certeza absoluta! Por mais de um mês, na casa em que eu morava, em Pender Island, viviam somente seres do sexo masculino: dois caras muçulmanos no andar de baixo; eu e mais dois no andar de cima, felizmente num espaço com três quartos. Cada parte da casa tinha sua cozinha. No primeiro andar, um brinco; no outro, uma tragédia. Lá pros idos de maio, cada um dos moradores da parte de cima da casa tinha uma namorada ou alguém em situação equivalente. O primeiro a convidar a parceira para pernoitar foi, digamos, o cidadão número 1. Pela manhã, ao sair pra trabalhar, um dos moradores da casa viu a namorada1 procurando algo na cozinha - mas não foi isso o que chamou sua atenção. Sim, senhoras e senhores, tudo estava limpo, faltava apenas guardar uns talheres. Passaram-se alguns dias e foi a vez do cidadão número 2 ter uma convidada. Batata! Quando voltei do trabalho a louça estava novamente perfeita, enquanto a moça terminava de ler uma revista

Meio intelectual, meio de esquerda

O texto abaixo é uma pérola que já roda há internet há um bocado de tempo. Surgiu num papo dia desses e deu vontade de publicá-lo por aqui. Bar ruim é lindo, bicho! Por Antonio Prata Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento e cinqüenta anos, mas tudo bem). No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o proletariado atende por Betão – é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura. – Ô Betão, traz mais uma pra a gente – eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa