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Mostrando postagens de julho, 2011

I Was Born Ten Thousand Years Ago

E eis que de repente leio o seguinte parágrafo hoje no ônibus, na biografia de Paulo Coelho escrita por Fernando Morais: “Em dezembro de 1976 a Philips colocou nas ruas o quinto LP de Paulo com Raul, Há Dez Mil Anos Atrás [...]. A canção que dava nome ao álbum tinha duas peculiaridades: uma redundância no título e o fato de ser a tradução adaptada de I Was Born Ten Thousand Years Ago , conhecida canção tradicional americana de domínio público que tinha várias versões, a mais famosa delas gravada por Elvis Presley quatro anos antes”. Foram longos minutos até chegar ao trabalho e procurar no YouTube a versão original da música. E bateu uma certa sensação de ignorância por gostar de ambos (Elvis e Raul) e não saber que a longa letra é uma adaptação/tradução/homenagem. Sem mais delongas, seguem abaixo o vídeo e a letra original, com a ressalva de que há mais de uma versão para I Was Born Ten Thousand Years Ago : I WAS BORN ABOUT TEN THOUSAND YEARS AGO (Traditional - Adapted by Elvis Presl

Alguns parágrafos sobre Telê

Quando olho para meus amigos mais próximos e vejo sua relação com o futebol, encaixo-os em dois grupos: (1) os que escolheram o time pela influência paterna e (2) os que optaram por A ou B naquela fase entre a infância e a adolescência, quando torcer por um clube que não ganha nada e nem tem ídolos resulta em bullying futebolístico. Como moro em São Paulo, lembro que os amigos santistas e palmeirenses aguentavam sarros constantes no começo dos anos 90, mas seguiam firmes em nome da relação com seus pais, torcedores e testemunhas de Pelé, Coutinho, Ademir da Guia e Luis Pereira. Nesse vácuo, muitas famílias viram surgir adolescentes são-paulinos e corintianos que correram o risco de deserção paterna. Neto comandava o Timão, enquanto Telê Santana iniciava sua era no Tricolor do Morumbi. Falar dos títulos que o São Paulo ganhou durante os cerca de cinco anos de Telê à frente do clube é chover no molhado. Mais importante é o legado deixado por ele: a importância de um jogo bonito, honesto

Ler ou não ler, eis a questão

Reproduzo abaixo o texto de Luiz Felipe Ponde publicado na edição de hoje (25/07) da Folha : Você gosta de Dostoiévski? Se a resposta for "não", o problema está em você, nunca nele. Uma coisa que qualquer pessoa culta deve saber é que Dostoiévski (e outros grandes como ele) nunca está errado, você sim. Se você o leu e não gostou, minta. Procure ajuda profissional. Nunca diga algo como "Dostoiévski não está com nada" porque queima seu filme. Costumo dizer isso para meus alunos de graduação. Eles riem. Aliás, um dos grandes momentos do meu dia é quando entro numa sala com uns 30 deles. Inquietos, barulhentos, desatentos, mas sempre prontos a ouvir alguém que tem prazer em estar com eles. Parte do pouco de otimismo que experimento na vida (coisa rara para um niilista... risadas) vem deles. Devido a essa experiência, costumo rir de muito blá-blá-blá que falam por aí sobre "as novas gerações". Um exemplo desse blá-blá-blá são os pais e professores dizerem coisa

Chile e algumas baboseiras que caem por terra

Quem tem seus 30 e poucos anos e se interessa por política e economia internacional cresceu ouvindo a ladainha de que o Chile deveria ser um exemplo para o Brasil. Seu sistema educacional, sua “modernidade” e seu modelo de previdência eram a toda hora comparados com o nosso. OK, não temos muitos motivos para nos orgulhar nessas áreas, mas o tempo demonstrou que nem de brincadeira deveríamos seguir qualquer cartilha chilena. As recentes manifestações ocorridas no Chile corroboram a ideia de que seu modelo fracassou. Grande parte do receituário chileno foi imposto durante a ditadura de Pinochet, período no qual o país serviu de cobaia para as experiências neoliberais que depois seriam acolhidas por toda América Latina. Os exemplos da previdência privada e da educação superior no Chile são emblemáticos. A partir de 1981, o governo abandonou o sistema tradicional de previdência e entregou-o a fundos privados. A proposta foi tão radical que nem mesmo Ronald Reagan e Margaret Thatcher ousara

A fim de um vício?

Há um jogo rolando pela net chamado "Você é um gênio". Coisa simples. Com o mouse, você tem que fugir dos blocos azuis. Segundo os criadores, uma fuga de 18 segundos comprova que você é genial. Baboseiras à parte, fica o link para a brincadeira: http://vamojuntos.blogspot.com/2011/07/youre-genius-game.html Fiz 14,7 segundos. Tenho provas!

"Treme" e uma visão de New Orleans após o Katrina

O papo agora é sobre séries. Com “House”, “Californication” e “Dexter” em recesso, tive a sorte de ver cair em minhas mãos (thanks, Namorada!) a primeira temporada de “Treme”. Admito que nunca ouvira falar da dita-cuja e demorei uns dias para resolver assisti-la (sempre dá uma certa preguiça...). Valeu bem a pena! A primeira temporada tem apenas dez episódios. Leio por aí que a segunda temporada já se encerrou e que há uma terceira já planejada pela HBO. A série é um drama que se passa em New Orleans, três meses depois da passagem do Katrina, em 2005. “Treme” é um bairro local, famoso pela música de primeira qualidade. Sua trama é concentrada em dez personagens da cidade, na forma como eles foram afetados pelo furacão e no modo como todos estão tentando tocar (ou reconstruir) suas vidas após a catástrofe. “Treme” tem um formato quase novelesco, um tanto quanto diferente de outras séries que acompanho ou já assisti. Seu teor político é fortíssimo, concentrado em alguns dos protagonistas

Antonio Cândido – uma entrevista imperdível

Separo aqui alguns trechos sensacionais de uma entrevista publicada no “Brasil de Fato”. Como disse um amigo próximo ao lê-la: “Finalmente uma coisa boa nesse jornal de m...”. Polêmicas à parte, duas frases ao longo do texto merecem destaque. Aliás, assino embaixo de ambas, sem pestanejar muito: “Tenho temperamento conservador, atitudes liberais e ideias socialistas”. “É melhor ser fascista do que não ter ideologia”. Sei que alguns estudantes de Letras lerão estas linhas, e por pura incompetência prefiro não escrever nada sobre Candido aqui. Deixo apenas meu respeito absoluto por sua obra e copio abaixo os trechos que me pareceram mais interessantes de sua lúcida entrevista (que pode ser lida na íntegra aqui ): “O socialismo só não deu certo na Rússia”. “O socialismo deu certo onde não foi ao poder”. “A coisa mais pérfida do capitalismo – por causa da necessidade cumulativa irreversível – é a sociedade de consumo. Marx não conheceu, não sei como ele veria. A televisão faz um inculcamen

Alemanha, Bismarck, indústria e Primeira Guerra

O fortalecimento da economia alemã na segunda metade do século 19 e suas consequências para o restante da Europa É impossível afirmar que um evento com a magnitude da Primeira Guerra Mundial tenha ocorrido por conta de um fenômeno isolado – são vários os elementos envolvidos. No entanto, para muitos historiadores e analistas, o papel geopolítico desempenhado pela Alemanha no final do século 19 foi um fator preponderante para o início do conflito. Este trabalho pretende analisar, pelo viés do desenvolvimento econômico da Alemanha, de que maneira um país unificado somente em 1871 pôde se transformar, em pouco mais de quatro décadas, em uma nação de primeira grandeza – a ponto de ser um dos protagonistas da Primeira Guerra. Que elementos – externos e internos – contribuíram para essa ascensão? Até que ponto é correto responsabilizar os alemães pelo estopim do conflito que viria a tirar as vidas de 19 milhões de pessoas? De 1789 a 1848 – anos cercados por revoluções Uma geração in

A impotência do gênio

Tostão, em sua coluna deste domingo, fala praticamente tudo o que penso sobre Messi. Entre suas frases certeiras, diz que "só podemos definir a importância de um grande craque no final de sua carreira" e que o argentino, por sua personalidade serena, nunca "será um bom personagem para os biógrafos". O ex-craque só comete um erro em seu texto, ao dizer que Messi nunca fará um gol de mão. Um pequeno texto aqui em "Já reparou?", há quatro anos, relembra esse fato. Abaixo o texto: A impotência do gênio Quase no fim do jogo, no empate por 0 a 0 entre Argentina e Colômbia, torcedores começaram a gritar o nome de Maradona. Como a maioria não deve ter saudades do confuso técnico, deduzo que parte dos gritos era para cutucar Messi e dizer que ele nunca será um Maradona. As câmeras de televisão mostraram, em detalhes, Messi profundamente abatido, encobrindo o rosto com as mãos, impotente. Parecia querer chorar e pedir perdão aos torcedores. Se Lavezzi tivesse feito

Um elogio (apenas um!) a "Quebrando o tabu"

Meu círculo de amizades “progressista” foi unânime: entre aqueles que assistiram a “Quebrando o tabu”, todos acharam o documentário uma droga – com o perdão do trocadilho previsível. Em termos técnicos, quase não tenho o que dizer, por entender pouco do assunto: é ruim mesmo. Mas, no frigir dos ovos, o trabalho final, que tem Fernando Henrique Cardoso como protagonista, é, sim, válido para tornar o debate sobre maconha & Cia. mais amplo. Em geral, as críticas que ouvi são a respeito da superficialidade do filme e, claro, ataques a FHC (e a Bill Clinton também, outro participante do documentário), por sua falta de políticas inovadoras no combate ao tráfico de drogas, na proposição de uma nova legislação sobre o tema e no trato aos usuários. Aqui é preciso separar as coisas: o governo tucano deixou a desejar nessa área; o debate promovido pelo ex-presidente, aos 80 anos, merece elogios – e também algumas ressalvas. O que é elogiável, no entanto, não atinge o nicho que já pensa de for

Fininho e a bola de tênis

Hoje vi em alguns sites o Federer demonstrado sua (falta de) habilidade com os pés. Na hora lembrei de um vídeo no qual o Meligeni mostra uma bela intimidade com a danada. Segue abaixo:

Palavras raras

Ônibus em São Paulo têm portas dos dois lados. É comum ver passageiros ocasionais com dificuldade em saber por qual delas se deve descer em determinado ponto. Hoje, um desses cidadãos ficou do lado esquerdo, esperando para descer nas proximidades do Viaduto do Chá. A saída, no entanto, era pelo lado direito. — Pessoal, errei! Com licença. Licencinha. Licença. Obrigado, desculpe. Licença! Ao chegar à porta certa, seu esforço foi em vão. O ônibus arranca. —Motorista!! Cobrador! Me enganei... tem como abrir a porta? —Não dá, posso ser multado —, gritou o motorista. — Por favor! Já estou atrasado, posso perder meu emprego! — Desculpe, realmente complica pra ele —, argumentou a cobradora. O ônibus para no farol, a poucos metros depois do ponto. — Por favor, gente. Eu me enganei. Por favor! Por gentileza! Não custa nada, vai. Sério... por toda a gentileza possível. [...] Por favor [...]. POR MISERICÓRDIA!!! Misericordioso (ou de saco cheio), o motorista abriu a porta.

Código de conduta para redes sociais – ou guia prático para manés

Em tempos nos quais o governador do Rio de Janeiro cria um código de conduta para se colocar na linha, sinto-me na liberdade de digitar uns milhares de caracteres com a pretensão (quanta ingenuidade!) de pôr alguns freios nos dedos inconsequentes que se espalham pela internet afora. Ruy Castro comentou esta semana que só com a popularização da internet Chico Buarque foi perceber que está longe de ser uma unanimidade, por conta dos comentários feitos nas redes sociais e nos rodapés de algumas reportagens a seu respeito. É claro que Chico fala isso em tom jocoso; da mesma forma, qualquer um que já discutiu música, política ou literatura nos botecos da vida sabe que o estilo do “feioso” está longe de agradar a todos – em algumas rodinhas eu diria que seus fãs já se tornaram minoria, mas isso é prosa pra outro texto. O que me chama a atenção nos que dizem “odiar o filho da puta e idiota do Chico”, nos que querem que “Chávez tenha câncer até na cabeça do pinto” ou naqueles que festejaram a