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Sobre aids, banho, culturas diferentes e ufanismo

Dia desses, num papo bem tonto com fundamento sério, falava com um amigo sobre a probabilidade de conhecer alguma moçoila portadora do HIV e ter um caso com dita cuja. A conversa surgiu logo depois da publicação de duas pesquisas: uma falando sobre a quantidade de pessoas com aids no mundo; a outra sobre o mesmo assunto, mas apenas no Brasil.

A parte tonta do papo veio da "conclusão" de que é preciso ser miseravelmente azarado para sair com alguma HIV positivo e contrair o vírus - segundo a pesquisa, há cerca de 34 milhões de pessoas infectadas no mundo, cerca de 500 mil no Brasil. Levando-se em conta que há umas 6 bilhões de pessoas nos cinco continentes e 200 milhões por aqui, os matemáticos podem finalizar a conta, algo que a cerveja não permitiu que concluíssemos.

Enfim, toda essa enrolação tonta é pra chegar nuns números realmente alarmantes, vistos numa matéria da CartaCapital desta semana, sobre o descontrole da aids na África do Sul, sede da próxima Copa do Mundo.

Vamos a alguns números, pra depois chegarmos a algumas barbaridades:

- A África do Sul tem 49 milhões de habitantes e cerca de 5,7 milhões de infectados (cerca de 17% dos portadores de todo o mundo);
- Cerca de 10% dos jovens entre 15 e 24 anos têm o HIV;
- Entre os adultos, a percentagem chega a 18% da população;
- Em algumas cidades, como Mpumalanga, cerca de 40% dos adultos são soropositivos;
- Em 1990, 1% dos sul-africanos tinham a doença; hoje são 12%.

Dizem que não existe problema social com uma só causa. A questão da aids na África do Sul comprova essa máxima, mas dois problemas saltam aos olhos absurdamente: ignorância e violência contra a mulher.

Cerca de 50 mil casos de estupro são registrados por ano - não dá nem vontade de saber a quantidade dos que não são levados ao conhecimento das autoridades. Em grande parte do país, a poligamia é aceita e em outras acredita-se que o sexo com mulheres virgens pode acabar com o HIV.

Criticar a cultura alheia é sempre algo meio delicado, mas atacar a ignorância é dever das autoridades. Aí nasce outro problema: o atual presidente (Jacob Zuma) já disse, há alguns anos, que após ter um caso extraconjugal, tomou um banho para evitar qualquer possibilidade de contrair o vírus. Seu antecessor (Thabo Mkebi) foi ainda mais longe: em 1999, contrariado com o tema, disse duvidar da existência do HIV.

Resultados: apenas a partir de 2001 a África do Sul passou a fazer uso dos coquetéis contra a doença; em 2008, 756 sul-africanos morreramm em decorrência do vírus.

Mas não se ufane: só em 2008, o Brasil teve mais de 800 mil casos de dengue...

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