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Pros que dizem que não há racismo no Brasil...

Texto tirado do Blog do Cosme Rímoli:

César Sampaio e Cléber. Dois ex-jogadores consagrados. Defenderam a Seleção Brasileira. Carreiras sem escândalos, religiosos. Homens de bem.

Resolveram continuar no futebol após a carreira como jogadores. Decidiram adminstrar equipes.

Estão à frente do Rio Claro. O time faz uma campanha ruim. Mas o que aconteceu não tem cabimento.

Dois torcedores do próprio Rio Claro discutiram com os agora dirigentes. E tomaram a atitude mais nojenta que poderiam. Apelaram para o racismo.

Envergonhado, César Sampaio para na frase ‘urubus na gaiola’. Mas foi daí para baixo.

Na Europa ainda hoje torcedores imitam macacos quando jogadores negros tocam na bola. Na Alemanha, Itália, Espanha, Rússia… Os brasileiros ficam chocados quando assistem essas imagens na tevê. Mas por hipocrisia.

O Brasil é um país onde o racismo é demonstrado por debaixo dos panos. Até a legislação qualifica como injúria, quando o mundo todo chama de racismo. Racismo é uma palavra muito pesada para advogados. Mas o que fica é o ato vergonhoso…

Infelizmente pouco importa a miscigenação, a mistura de raças,cores que dominam o País. A intolerância vem em piadas, em apelidos, em bordões em programas de televisão. Quase ninguém tem coragem de levar o caso adiante. Quem é ofendido se cala. Não quer prolongar a discussão.

Não faz 80 anos , os negros tinham de passar pó de arroz nos rostos, braços e pernas para jogarem futebol.

Alguém parou para pensar no famoso caso que o argentino Desábato chegou a ser preso no Morumbi? Em 2005? O apelido do jogador do São Paulo envolvido? Foi o atacante Grafite. Grafite por ser muito magro e negro. Macaco, negrinho, preto, pedaço de asfalto.

Basta ir assistir uma partida na várzea para notar que o racismo continua a flor da pele.

Os negros deixaram de ser escravos há 122 anos.

“No Brasil me perseguiam porque eu gostava de loira. E negro como eu não tinha direito de ficar com uma loira.” Paulo César Caju falou ao blog que isso aconteceu em 1974.

O técnico do São Caetano, Antônio Carlos, foi acusado de racismo por Jeovânio do Grêmio. Ele o teria xingado e mostrado a cor da sua pele. Em 2006.

Leônidas da Silva nunca morreu de amores pelo apelido Diamante Negro. Porque não só Diamante?

“Eu sofri tanto porque era negro. Fiquei marcado pelo gol na Copa de 1950 por ser um goleiro negro. Ninguém me aceitava como titular da Seleção por causa da cor da minha pele.” O desabafo foi feito por Barbosa

“No Brasil, negro disfarça, alisa o cabelo. Coloca roupa chique. Faz tudo para que o presidente do clube não perceba que ele é negro. Há um enorme preconceinto no nosso país. Por isso tão poucos treinadores negros. E os mulatos falam que são brancos.” Constatação do treinador Lula Pereira.

Em tempos de carnaval vale a pena lembrar a letra de tão grande quanto infeliz sucesso.

De Lamartine Babo. Só o refrão que todos conhecem. E cantam sem pensar.

“O teu cabelo não nega mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata eu quero o seu amor…”

César Sampaio e Cléber vocês têm a obrigação de irem até o final no processo desses boçais.

Racismo é intolerável.

E só vai acabar se houver coragem, muita coragem de quem for descriminado…

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