Ah, os ônibus. Sacolejantes, apertados, desconfortáveis, mas —já reparou? — também fonte inesgotável de comportamentos do cotidiano. E o que é bem legal já destaco de cara: as pessoas têm lido mais do que há alguns anos. Sim, é verdade! Ontem resolvi dar uma espiada nisso com mais cuidado.
O ônibus estava mais vazio do que o normal no caminho do trabalho para casa. Em pé e com os olhos meio cansados, me pus a observar as pessoas. Acreditem: apenas entre os que estavam sentados na parte traseira do veículo (depois da catraca), havia seis indivíduos lendo algo.
Supondo que caibam umas 30 pessoas sentadas nessa parte do ônibus... são respeitáveis 20% do total! Resolvi esticar o pescoço e ver o que liam. Um senhor lia a "Veja". Uma moça com cara de vestibulanda lia "A Cidade e as Serras". A senhora mais velha entre as leitoras tinha algo de literatura espírita em mãos (supus pelo sobrenome Gasparetto na capa) e a seu lado viajava um bigodudo com um livro em inglês, cheio de fotos da Inglaterra. Uma moça mais ou menos na casa dos 30 anos lia uma revista em quadrinhos (de longe pareceu essa linha nova da Turma da Mônica, com os personagens adolescentes). A outra moça com livro nas mãos desceu logo e não pude ver sua capa.
O outro artefato cultural (ou não) que chama a atenção ultimamente nos ônibus é a proliferação de fones de ouvido em inúmeras cabeças. Predominam os pequenos, que ficam enfiados nas orelhas — quando aparece algum daqueles à la DJ, bem grandões, normalmente pertence a sujeitos cheios de marra, meio esquisitões. Vez por outra aparece também algum sem-noção (cobradores inclusive) com radinhos de pilha tradicionais, daqueles que todos ao redor compartilham o som. Invariavelmente tocam pagode ou sertanejo.
Pelo que se vê nos ônibus é possível deduzir também que o paulistano, em sua maioria, é um indivíduo que dorme mal pra caramba — ou então é um sujeito que dorme fácil. Mais da metade do ônibus de ontem dormia — alguns com fones nos ouvidos. Na rua, fazia 29º e vinham buzinas por todos os lados. O motorista freava bruscamente a todo instante. A claridade era insuportável sem óculos escuros. Mas mesmo assim ao menos uns 15 passageiros cochilavam gostoso, alguns de boca aberta, outros com a fisionomia desconfiada e impaciente.
O trânsito de repente ficou bem ruim, perto do cruzamento da Rebouças com a Faria Lima, e, mesmo estando de pé, resolvi sacar um livro da mochila. Percebi então que fora os que dormiam, ouviam música ou liam algo, sobraram poucos passageiros. Passageiros esses que simplesmente pensavam na vida, viam a cidade passar pela janela, se distraíam sem colocar os olhos por muito tempo em nenhum ponto específico. Nenhum deles era jovem. Nenhum deles conversava entre si, mesmo nos bancos reservados aos idosos.
O ônibus estava mais vazio do que o normal no caminho do trabalho para casa. Em pé e com os olhos meio cansados, me pus a observar as pessoas. Acreditem: apenas entre os que estavam sentados na parte traseira do veículo (depois da catraca), havia seis indivíduos lendo algo.
Supondo que caibam umas 30 pessoas sentadas nessa parte do ônibus... são respeitáveis 20% do total! Resolvi esticar o pescoço e ver o que liam. Um senhor lia a "Veja". Uma moça com cara de vestibulanda lia "A Cidade e as Serras". A senhora mais velha entre as leitoras tinha algo de literatura espírita em mãos (supus pelo sobrenome Gasparetto na capa) e a seu lado viajava um bigodudo com um livro em inglês, cheio de fotos da Inglaterra. Uma moça mais ou menos na casa dos 30 anos lia uma revista em quadrinhos (de longe pareceu essa linha nova da Turma da Mônica, com os personagens adolescentes). A outra moça com livro nas mãos desceu logo e não pude ver sua capa.
O outro artefato cultural (ou não) que chama a atenção ultimamente nos ônibus é a proliferação de fones de ouvido em inúmeras cabeças. Predominam os pequenos, que ficam enfiados nas orelhas — quando aparece algum daqueles à la DJ, bem grandões, normalmente pertence a sujeitos cheios de marra, meio esquisitões. Vez por outra aparece também algum sem-noção (cobradores inclusive) com radinhos de pilha tradicionais, daqueles que todos ao redor compartilham o som. Invariavelmente tocam pagode ou sertanejo.
Pelo que se vê nos ônibus é possível deduzir também que o paulistano, em sua maioria, é um indivíduo que dorme mal pra caramba — ou então é um sujeito que dorme fácil. Mais da metade do ônibus de ontem dormia — alguns com fones nos ouvidos. Na rua, fazia 29º e vinham buzinas por todos os lados. O motorista freava bruscamente a todo instante. A claridade era insuportável sem óculos escuros. Mas mesmo assim ao menos uns 15 passageiros cochilavam gostoso, alguns de boca aberta, outros com a fisionomia desconfiada e impaciente.
O trânsito de repente ficou bem ruim, perto do cruzamento da Rebouças com a Faria Lima, e, mesmo estando de pé, resolvi sacar um livro da mochila. Percebi então que fora os que dormiam, ouviam música ou liam algo, sobraram poucos passageiros. Passageiros esses que simplesmente pensavam na vida, viam a cidade passar pela janela, se distraíam sem colocar os olhos por muito tempo em nenhum ponto específico. Nenhum deles era jovem. Nenhum deles conversava entre si, mesmo nos bancos reservados aos idosos.
Comentários