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Renato Russo – 11 de outubro

- Júnior, telefone pra você!

Carminha chama o filho, que pega o telefone. Ligação do Rio de Janeiro. Do outro lado da linha, o diretor-artístico da EMI, Jorge Davidson. Ele ouvira falar de Renato durante as gravações do primeiro disco dos Paralamas do Sucesso. Quando o trio tocou “Química”, Davidson perguntou a Herbert:

- Essa música é tua também?

- Não, essa música é de um amigo meu de Brasília. Ele é tudo o que eu gostaria de ser.

Herbert e Bi falam mais sobre Renato, Legião, Plebe, Capital; a cena brasiliense. Contam que “Ainda é cedo”, música que os Paralamas tinham começado a tocar nos shows, também era de Renato. Idem “Veraneio vascaína”. Incluem no disco “O que eu não disse”, nascida de harmonia criada por Herbert, desenvolvida por Barone, letra esboçada por Renato e formatada pelo guitarrista. Bi Ribeiro, então, descola com Pedro uma fita com gravações caseiras de Renato cantando e tocando violão. Depois de escutar o cassete, Davidson liga para Brasília e convida Renato.

- Você não quer vir ao Rio?

Renato não demonstra surpresa com o convite. Comunica aos outros integrantes da banda e eles seguem para a capital carioca. Na sede da gravadora, em Botafogo, assinam contrato-padrão: um disco, com opcional de mais três. Antes, porém, gravariam três músicas [...]. Eles já ficam no Rio em um hotel bancado pela gravadora. Algumas horas depois do check-in, Renato liga para Davidson. Quer saber se o achocolatado do frigobar do quarto também é por conta da empresa.

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E já se vão 15 anos da morte de Renato Russo. O trecho acima, retirado de “O filho da revolução”, livro do jornalista Carlos Marcelo, veio em minha cachola assim que li a respeito da efeméride de hoje. Entre várias histórias de bastidores, bebedeiras, drogas e detalhes da cena roqueira de Brasília dos anos 80, não tenho a menor ideia do por que pensei no raio do Nescau que o vocalista da Legião bebeu quando chegou ao Rio. Mas foi o que veio e pronto.

Li há uns dois anos que os discos da Legião ainda vendem pra cacete em todo o país – coisa de quase cem mil por ano, apesar de todos os pesares de nossa indústria fonográfica e da facilidade da internet. Não quis ver a homenagem feita à banda no Rock`n Rio deste ano, mas algo me diz que o resultado foi uma droga. Prefiro ficar com as lembranças de tardes e mais tardes ouvindo cada um de seus discos, decorando cada verso de “Faroeste caboclo” e, mais recentemente, me matando pra tentar tirar algumas de suas músicas no violão (apesar de fáceis, minha inabilidade prevalece).

Fica abaixo um vídeo legal, com Renato ainda bem novo, à frente da Legião e ao lado de um saudoso Fausto Silva. “Quase sem querer” ainda está guardada em algum canto do cérebro, verso por verso, acorde por acorde.

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