Foi em 1998. Havia toda uma expectativa pela chegada dos 18 anos: maioridade, carteira de habilitação, entrada em motéis. Mas havia também o alistamento militar. E, para minha total infelicidade, a data para apresentação no quartel de Quitaúna, em Osasco, coincidiu com meu 18º aniversário.
Era uma segunda-feira. Como várias segundas-feiras de agosto, um dia horrível para sair da cama – especialmente pela necessidade de dar as caras no quartel às 6h e acordar às 4h30. Garoava às 5h50. O frio não era tão intenso, mas incomodava.
Os possíveis novos recrutas chegavam acabrunhados. Alguns, cheios de si, aos poucos eram reconduzidos à insignificância que lhes cabia naquele recinto, após rajadas daquilo que hoje chamam de bullying. Outros apareciam com visuais que não condiziam ao ambiente da caserna: punks, nerds, gays e cabeludos recebiam tratamento especial dos soldados que, um ano antes, provavelmente aparentavam o mesmo desconforto que eu sentia.
Até que passei pelo ritual de recepção sem qualquer problema. Com roupa discreta, cabelo raspado e em boa forma, o máximo que ouvi foram provocações como “esse já está com a farda!” ou “certeza que você vai ser meu reco”, vindas dos veteranos. De fato, ao contrário do que imaginei por semanas, eu não tinha qualquer bom argumento para jurar a bandeira o mais rápido possível, zarpar dali o quanto antes e tentar aproveitar de alguma forma o dia do meu aniversário. Doce ilusão...
Pega fila aqui, deixa RG, volta, exame médico, mais espera, teste do peso, medição da circunferência da cabeça, conversa com o médico. Vai pra lá, volta, proibição de sentar em qualquer lugar (muito menos no chão). Frio, sanduíche tosco. Silêncio... longos silêncios. Prova do CPOR. Constatação de que a maioria dos outros caras com 18 anos lá presentes sequer havia terminado a oitava série. Não ouvir o nome ser chamado e ter a certeza de que será preciso voltar ao quartel outras vezes, seja para pegar a farda ou para finalmente ser dispensado.
Deixei o quartel pouco antes das 16h. Cheguei em casa às 17h30. Banho, jantar e cama, sem ter disposição para falar com ninguém. E nada de novo por ser maior de idade. Nenhuma mudança, nenhuma surpresa, nenhuma alegria contagiante. Na terça-feira, trabalho normal, tudo como dantes... Ainda tive que retornar outras cinco vezes ao quartel, até ser definitivamente dispensado, já em junho do ano seguinte, às vésperas dos 19 anos, quando aí sim as coisas começaram a entrar nos eixos...
Era uma segunda-feira. Como várias segundas-feiras de agosto, um dia horrível para sair da cama – especialmente pela necessidade de dar as caras no quartel às 6h e acordar às 4h30. Garoava às 5h50. O frio não era tão intenso, mas incomodava.
Os possíveis novos recrutas chegavam acabrunhados. Alguns, cheios de si, aos poucos eram reconduzidos à insignificância que lhes cabia naquele recinto, após rajadas daquilo que hoje chamam de bullying. Outros apareciam com visuais que não condiziam ao ambiente da caserna: punks, nerds, gays e cabeludos recebiam tratamento especial dos soldados que, um ano antes, provavelmente aparentavam o mesmo desconforto que eu sentia.
Até que passei pelo ritual de recepção sem qualquer problema. Com roupa discreta, cabelo raspado e em boa forma, o máximo que ouvi foram provocações como “esse já está com a farda!” ou “certeza que você vai ser meu reco”, vindas dos veteranos. De fato, ao contrário do que imaginei por semanas, eu não tinha qualquer bom argumento para jurar a bandeira o mais rápido possível, zarpar dali o quanto antes e tentar aproveitar de alguma forma o dia do meu aniversário. Doce ilusão...
Pega fila aqui, deixa RG, volta, exame médico, mais espera, teste do peso, medição da circunferência da cabeça, conversa com o médico. Vai pra lá, volta, proibição de sentar em qualquer lugar (muito menos no chão). Frio, sanduíche tosco. Silêncio... longos silêncios. Prova do CPOR. Constatação de que a maioria dos outros caras com 18 anos lá presentes sequer havia terminado a oitava série. Não ouvir o nome ser chamado e ter a certeza de que será preciso voltar ao quartel outras vezes, seja para pegar a farda ou para finalmente ser dispensado.
Deixei o quartel pouco antes das 16h. Cheguei em casa às 17h30. Banho, jantar e cama, sem ter disposição para falar com ninguém. E nada de novo por ser maior de idade. Nenhuma mudança, nenhuma surpresa, nenhuma alegria contagiante. Na terça-feira, trabalho normal, tudo como dantes... Ainda tive que retornar outras cinco vezes ao quartel, até ser definitivamente dispensado, já em junho do ano seguinte, às vésperas dos 19 anos, quando aí sim as coisas começaram a entrar nos eixos...
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