Pular para o conteúdo principal

Maurício, o pequeno cantor

O trecho que digito logo abaixo é retirado do livro “Adoniran, uma biografia”, de Celso de Campos Jr., sobre o grande sambista paulista. Aproveito pra desejar um feliz 2012 à meia dúzia de leitores que passam por aqui de vez em quando.

"Com doze anos, o menino Maurício já tinha alguma experiência em programas de calouros – na verdade, vinha participando regularmente dessas disputas desde que a irmã Mariza, a cantora mirim da família, tivera uma crise de bronquite pouco antes de uma apresentação. Na ocasião, para preencher a lacuna, o mano, dois anos mais velho, encarou o microfone e fez bonito, ganhando o primeiro prêmio.

[...]

Naquela manhã de domingo de 1947, a apresentação seria especial. Pelo roteiro traçado pela mãe do garoto, chegara a hora do pupilo apresentar-se no programa de calouros da Rádio Record, “a Maior”, uma das líderes de audiência do rádio paulistano.

[...]

Para aquela audição, Maurício escolhera nada menos que a épica “Granada”, do compositor mexicano Agustín Lara. [...] Com a grande orquestra da PRB-9 preparada para acompanhá-lo, Maurício subiu ao palco. Já nos primeiros versos, a plateia fez silêncio para ouvir o menino prodígio.

[...]

Ao final do programa, Randal Juliano chamou todos os participantes ao palco para revelar o vencedor da jornada. E o primeiro lugar ficou com... o pequeno Maurício! Imediatamente após o anúncio, Adoniran Barbosa pôs o menino em seus ombros e saiu a dar voltas pelo auditório. Alvoroço. Delírio. Frenesi.

[...]

A história fica muito mais interessante se acompanharmos o destino do protagonista. Maurício ganharia mais uma série de programas de calouros, até ser impedido de concorrer com os novatos. Desistiria, porém, da carreira de cantos quando estava prestes a se apresentar no picadeiro de um circo de Suzano, na Grande São Paulo. Disse a dona Petronilha que não iria mais cantar e ponto final. Alguns anos depois, para ajudar no orçamento de casa, começou a fazer ilustrações para jornais de Mogi das Cruzes, onde passara a morar com a família. De volta à capital paulista, por volta de 1954, foi aprovado em um teste para trabalhar como repórter policial da “Folha de S. Paulo”.

Mas a grande virada só viria cinco anos mais tarde, quando antigo calouro mirim criou uma série de tiras em quadrinhos sobre um cachorrinho e seu dono. Ofereceu seu trabalho à “Folha”, que aceitou publicar as tiras da dupla Bidu e Franjinha em suas páginas. Nesse momento, saía definitivamente de cena o jornalista e entrava o desenhista. Em seguida viriam Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali, Chico Bento..."

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bismarck, unificação e as consequências da industrialização alemã

É impossível afirmar que um evento com a magnitude da Primeira Guerra Mundial tenha ocorrido por conta de um fenômeno isolado – são vários os elementos envolvidos. No entanto, para muitos historiadores e analistas, o papel geopolítico desempenhado pela Alemanha no final do século 19 foi um fator preponderante para o início do conflito. Este trabalho pretende analisar, pelo viés do desenvolvimento econômico da Alemanha, de que maneira um país unificado somente em 1871 pôde se transformar, em pouco mais de quatro décadas, em uma nação de primeira grandeza – a ponto de ser um dos protagonistas da Primeira Guerra. Que elementos – externos e internos – contribuíram para essa ascensão? Até que ponto é correto responsabilizar os alemães pelo estopim do conflito que viria a tirar as vidas de 19 milhões de pessoas? De 1789 a 1848 – anos cercados por revoluções Uma geração inteira, tanto na França quanto nos estados germânicos, cresceu sob o impacto direto das consequências da Revolução Francesa...

O dilema dos EUA: resgatar o passado ou construir um novo futuro?

RESENHA DE "ESTAS VERDADES", DE JILL LEPORE Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos, em 2008, utilizando-se de um slogan que ganhou fama mundial: “Change”. Nem durante a campanha eleitoral e tampouco no decorrer de seus dois mandatos foi possível entender com clareza qual seria essa mudança. Em 2016, Donald Trump conseguiu ser muito mais explícito ao prometer que tornaria a América grandiosa novamente. O empresário e apresentador de TV optou pelo resgate de valores do passado estadunidense para atingir em cheio ― e com sucesso ― o cidadão insatisfeito com o presente incerto deste início de século 21. Após oito anos de ações abstratas do governo Obama, seu sucessor não se furtou em propor uma série de políticas xenófobas, segregacionistas e protecionistas para chegar à Casa Branca.   Desde o primeiro dia de seu mandato, pairaram sobre Trump nuvens de ameaças à democracia dos Estados Unidos. Seu desastroso adeus ― marcado pela tentativa de autogolpe em 6 de janeir...

I Was Born Ten Thousand Years Ago

E eis que de repente leio o seguinte parágrafo hoje no ônibus, na biografia de Paulo Coelho escrita por Fernando Morais: “Em dezembro de 1976 a Philips colocou nas ruas o quinto LP de Paulo com Raul, Há Dez Mil Anos Atrás [...]. A canção que dava nome ao álbum tinha duas peculiaridades: uma redundância no título e o fato de ser a tradução adaptada de I Was Born Ten Thousand Years Ago , conhecida canção tradicional americana de domínio público que tinha várias versões, a mais famosa delas gravada por Elvis Presley quatro anos antes”. Foram longos minutos até chegar ao trabalho e procurar no YouTube a versão original da música. E bateu uma certa sensação de ignorância por gostar de ambos (Elvis e Raul) e não saber que a longa letra é uma adaptação/tradução/homenagem. Sem mais delongas, seguem abaixo o vídeo e a letra original, com a ressalva de que há mais de uma versão para I Was Born Ten Thousand Years Ago : I WAS BORN ABOUT TEN THOUSAND YEARS AGO (Traditional - Adapted by Elvis Presl...