Pular para o conteúdo principal

Faça humor, não faça guerra

Diz a filosofia popular que o futebol é a coisa mais importante entre as menos importantes da vida. Sem querer parar mais de dez segundos pra pensar nisso, concordo e pronto. Mas pensando nessa bela máxima e no jornalismo brasileiro (ou paulista, pra ser mais específico), há tempos eu me sentia incomodado com a pompa exagerada ou a tosquice desprovida de qualquer bom senso dos programas esportivos disponíveis nas emissoras de TV abertas e por assinatura.

Se em canais como a Gazeta, a RedeTV e a Bandeirantes imperam o assassinato da língua portuguesa, o bairrismo, preconceitos da década de 40 e o merchan completamente fora de lugar, nas principais opções da TV paga (ESPN e SporTV) o que se vê todas as semanas são uma pompa e um pedantismo lamentáveis. "Estarão discutindo as raízes do preconceito racial no Brasil ou possíveis soluções para a cura do câncer?", perguntaria o zapeador desacostumado aos debates extramente sérios sobre a porrada do Obina ou a suspensão do Dagoberto.

Digo tudo isso após mais de um mês em casa, curtindo uma vida com tempo livre pra caramba, na qual venho assistindo religiosamente ao "Globo Esporte", apresentado pelo Tiago Leifert. Depois de mais de um ano de audiência declinante, eis que a emissora resolveu mudar o estilão do programa em São Paulo: trocou o apresentador, aposentou o teleprompter (a máquina que passa os textos lidos pelos williambonners e cidmoreiras da vida) e deu um jeito de levar ao ar algo que atraísse especialmente o público jovem, que andava preferindo rerererereassistir ao Chaves do que ver as últimas do Curintia.

O começo foi terrível. Eu sentia a chamada vergonha alheia a cada vez que Leifert se perdia, chamava um repórter que deveria estar no treino do Palmeiras mas aparecia no Museu do Futebol ou simplesmente dava umas gaguejadas pela pouca experiência. Mas eis que hoje o programa está mais do que redondo, com um humor que lembra o do Pânico nos tempos em que a Rosana Hermann era sua roteirista e sem a chatice embotada ou o nível tosco que se vê por aí quando o assunto é futebol.

E eis que Leifert é uma das polêmicas da semana por causa do final do programa da última terça-feira. Carente de notícias bacanas, o rapaz compôs um funk e deu um de MC ao vivo. Leio por aí que a Globo recebeu uma enxurrada de e-mails reclamando do apresentador. Lamentável! Duas vezes lamentável esse comportamento do público. A sacada foi legal demais e merece ser reproduzida. Veja aí:

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os compatriotas de Woody Allen

Estava em algum site por aí hoje: O diretor americano Woody Allen considera que a maioria de seus compatriotas são gordos e sexualmente complexados. "Tudo ali é expressão do medo e da repressão sexual: a loucura religiosa, o fanatismo pelas armas, a extrema-direita louca. Eles têm uma visão da sexualidade marcada por duvidosas leis morais", afirma Allen, em entrevista antecipada hoje pelo jornal "Die Zeit". O diretor de "Vicky Cristina Barcelona" considera que o sexo é utilizado nos Estados Unidos "como uma arma dramática, assim como a violência" e que as muitas cenas de sexo nos filmes produzidos em seu país são "simplesmente entediantes".

"Vesti azul.... minha sorte então mudou"

A primeira vez que ouvi falar em Wilson Simonal foi no colégio - se não me engano, numa aula da Tia Idair, na quarta série. Por algum motivo, ela havia citado "Meu limão, meu limoeiro" e ninguém da classe sabia do que se tratava. Estupefata, ela cantarolou "... uma vez skindô lelê, outra vez skindô lalá" e tentou fazer algo no estilo que o "rei da pilantragem" costumamava aprontar com suas plateias . E deu certo. Dia desses fui ver "Simonal - Ninguém sabe o duro que eu dei", documentário muito bem feito sobre a carreira do sensacional cantor, com ênfase, claro, na eterna dúvida que o cercou desde os anos 70 até sua morte, em 2000: Simonal foi um dedo-duro dos militares durante a ditadura ou não? Pra quem não sabe do que se trata, um resumo curto e grosso: Simonal competia com Robertão na virada dos 60 para os 70 como o cantor mais popular do Brasil. Um belo dia, seu nome aparece nos jornais como delator de companheiros de profissão, alguém a serv

A grandeza de Nelson Ned

Um belo dia, em um programa de televisão (“Conexão Internacional”, da extinta Rede Manchete), Chico Buarque enviou uma pergunta para Gabriel García Márquez: “As suas preferências musicais causam espanto em muita gente, principalmente aqui no Brasil. Eu queria saber se os seus romances fossem música, seriam samba, tango, som cubano ou um bolero vagabundo mesmo?”. Com elegância e sem vergonha de suas preferências, o escritor colombiano respondeu: “Eu gostaria que fossem um bolero composto por você e cantado pelo Nelson Ned”. Pela terceira vez (haverá ainda um quarto texto), recorro a “Eu não sou cachorro, não”, livro de Paulo César Araújo para relatar causos de nossa cultura popular. Pouco antes da resposta de Gabo a Chico, fico sabendo ainda que o Nobel de Literatura escreveu “Crônica de uma morte anunciada” ao som de canções como “Tudo passará”, do grande pequeno cantor brasileiro, cuja obra em geral é relegada aos rótulos de “cafona” e “brega” de nossa discografia. Nelson Ned é figura