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Lei "seca" o escambau!

Depois de um bom tempo ser ler o Dimenstein, eis que me deparo com um bom texto dele, sobre a chamada "lei seca", que de seca não tem nada. Aí vai:

A lei não é seca

Crescem ataques contra a lei que inibe o motorista de beber e dirigir – alguns deles, com razão. Pessoalmente, temo que o excesso de rigor inviabilize sua aplicação. Também tenho dúvidas sobre a legalidade de exigir que alguém se submeta ao bafômetro. Em essência, porém, sou dos que apóiam a dureza contra os irresponsáveis do trânsito. Por isso, fico muito incomodado com o apelido "lei seca" – é um apelido tendencioso, abençoado por nós, jornalistas.

Fico incomodado por dois motivos:

1) Não existe nenhuma proibição à bebida. Mas apenas a se dirigir depois de bebida. É muitíssimo diferente da vivida pelos Estados Unidos. Erro, portanto, conceitual. Não tem nada a ver com aquela maluquice dos americanos.

2) Como aquela lei era, nos EUA, uma maluquice, o apelido lei seca estimula as ações e a desobediência.

Não sou moralista. Gosto de beber e, reconheço, aprecio aquela sensação de leveza que provoca uma dose a mais. Mas não apoiar essa lei é uma irresponsabilidade. Há tempos precisávamos de algo mais duro contra a matança no trânsito – e os comunicadores fazem um julgamento quando sustentam o apelido de lei seca.

Pode parecer um detalhe, mas não é.

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