Quem acompanha mais de perto a história do jornalismo já deixou para trás há tempos aquela imagem de que os veículos de comunicação do país combateram a ditadura, sofreram com a censura e todos os etc dessa lenga-lenga. Quem não acompanha ainda mantém grande parte dessa ilusão, alimentada, em grande medida, pela própria mídia.
Os jornais que estão aí até hoje foram apoiadores de primeira hora do golpe – os que não foram acabaram desaparecendo aos poucos ou relegados a espaços alternativos. Já não é de hoje que se sabe que órgãos da repressão como o DOPS chegaram a usar automóveis do Grupo Folha em determinadas ações. Só quando o regime militar já se mostrava enfraquecido, no começo dos anos 80, é que coube à Folha assumir, numa bela jogada de marketing, a fama de “o jornal das Diretas”.
Dois parágrafos longos depois, me remeto novamente à bela pesquisa feita por Paulo César Araújo em seu “Eu não sou cachorro, não”, livro citado aqui neste blog na semana passada. Ao falar da pecha de vendidos sofrida pela dupla “Dom & Ravel”, responsáveis pela pérola “Eu te amo meu Brasil”, em meio à fase mais dura da ditadura (ou “ditabranda”, segundo a Folha), o escritor recorda que até mesmo artistas conceituados (como Jorge Ben, por exemplo, ao cantar "Páis tropical") seguiram pelo mesmo caminho. E, em meio à avalanche de elogios ao governo da época, vindos de diversos setores da sociedade, o autor reproduz trechos do editorial de 7 de setembro de 1971 da Folha de S.Paulo. Segue abaixo:
"... poucas vezes em sua história teve o Brasil ocasião de comemorar o Dia da Pátria com tantas e tão fundadas razões de otimismo quanto este ano. Não foi por outra causa que o Sete de Setembro em todo o país teve a assinalá-lo intensa vibração cívica e autêntica participação popular. Mais do que um passado glorioso, movia os brasileiros ao entusiasmo um presente promissor, que antecipa um futuro no qual se pode decididamente acreditar".
"Não é exagero dizer que a criação desse clima de franca e otimista certeza de que estamos no bom caminho foi extremamente favorecida pela presença do presidente Médici na chefia do governo. Os brasileiros, em suma, identificam-se com seu presidente, com a autoridade que ele emana, na serena energia de seus gestos, na inabalável determinação com que procura promover o desenvolvimento com justiça social".
Como diz o próprio autor da pesquisa, nem a melhor agência de propaganda da época poderia fazer melhor...
Os jornais que estão aí até hoje foram apoiadores de primeira hora do golpe – os que não foram acabaram desaparecendo aos poucos ou relegados a espaços alternativos. Já não é de hoje que se sabe que órgãos da repressão como o DOPS chegaram a usar automóveis do Grupo Folha em determinadas ações. Só quando o regime militar já se mostrava enfraquecido, no começo dos anos 80, é que coube à Folha assumir, numa bela jogada de marketing, a fama de “o jornal das Diretas”.
Dois parágrafos longos depois, me remeto novamente à bela pesquisa feita por Paulo César Araújo em seu “Eu não sou cachorro, não”, livro citado aqui neste blog na semana passada. Ao falar da pecha de vendidos sofrida pela dupla “Dom & Ravel”, responsáveis pela pérola “Eu te amo meu Brasil”, em meio à fase mais dura da ditadura (ou “ditabranda”, segundo a Folha), o escritor recorda que até mesmo artistas conceituados (como Jorge Ben, por exemplo, ao cantar "Páis tropical") seguiram pelo mesmo caminho. E, em meio à avalanche de elogios ao governo da época, vindos de diversos setores da sociedade, o autor reproduz trechos do editorial de 7 de setembro de 1971 da Folha de S.Paulo. Segue abaixo:
"... poucas vezes em sua história teve o Brasil ocasião de comemorar o Dia da Pátria com tantas e tão fundadas razões de otimismo quanto este ano. Não foi por outra causa que o Sete de Setembro em todo o país teve a assinalá-lo intensa vibração cívica e autêntica participação popular. Mais do que um passado glorioso, movia os brasileiros ao entusiasmo um presente promissor, que antecipa um futuro no qual se pode decididamente acreditar".
"Não é exagero dizer que a criação desse clima de franca e otimista certeza de que estamos no bom caminho foi extremamente favorecida pela presença do presidente Médici na chefia do governo. Os brasileiros, em suma, identificam-se com seu presidente, com a autoridade que ele emana, na serena energia de seus gestos, na inabalável determinação com que procura promover o desenvolvimento com justiça social".
Como diz o próprio autor da pesquisa, nem a melhor agência de propaganda da época poderia fazer melhor...
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