
Em meu círculo de amigos, havia somente um ou dois santistas, sempre discretos. Fanáticos mesmo apenas alguns senhores, como o Constantino, dono de um bar na rua e avô do Chulé, grande companhia daqueles tempos. Ao mesmo tempo, para muitos torcedores, o Peixe já tinha se tornado uma espécie de Portuguesa ou Juventus, times que sempre geravam simpatia entre os que gostavam de futebol.
De certa forma, não era apenas a grandeza do Santos que me parecia incompreensível. Algo parecido acontecia com a seleção brasileira. Novamente vinham Pelé e outros craques, muitas vezes em imagens em preto-e-branco, em uma velocidade que atraía e ao mesmo tempo gerava um monte de interrogações.
Vieram os anos 90 e finalmente, depois de 24 anos, o Brasil voltaria a vencer uma Copa do Mundo. Apesar de Romário, o time campeão nos Estados Unidos não lembrava em nada aqueles vídeos repetidos ad infinitum em época de mundiais. Um ano depois, o Santos conseguiu começar a alterar essas impressões estranhas. Apesar de são-paulino, acompanhei com apreensão, ao lado de milhares de “testemunhas de Giovanni”, as semifinais e finais do Brasileiro de 1995, quando o Peixe finalmente me deu motivos para acreditar que era de fato um grande time – e não apenas um clube que vivia do passado.
O ano decisivo para essa mudança foi 2002. À época, trabalhava no Lance! e me lembro que a cobertura jornalística destinada ao Santos estava se tornando muito parecida com a da Portuguesa. Sua torcida a cada pesquisa se mostrava menor e esse tamanho era sempre conferido na quantidade de jornais vendidos nas segundas-feiras: os campeões nesse quesito, na capital paulista, eram claramente Corinthians, São Paulo e Palmeiras.
Eis que, de repente, o país passa a conhecer Robinho, Diego e uma geração de moleques que por pouco não ficaram de fora da fase final do Campeonato Brasileiro daquele ano. Para chegar ao título, eliminaram os favoritos São Paulo e Corinthians. Uma geração de santistas sai da toca. Aqueles que nunca se esconderam vão ao êxtase. Os paulistas voltavam a ter, de fato, outro gigante para atazanar o chamado Trio de Ferro da capital. Meses antes, algo parecido ocorrera com a seleção brasileira. Com Rivaldo e Ronaldo à frente, veio o penta, com um futebol vistoso, digno de entrar para a história do futebol.
Hoje, com Neymar e Ganso, tricampeões da América (privilégio somente dos gigantes do futebol), percebo a importância que a geração de Robinho teve para garantir que a torcida santista revertesse uma trajetória descendente, resultado direto da carência de títulos importantes durante os anos 80 e 90 – fase em que seus rivais paulistas obtiveram importantes conquistas. Um time com sua história merece o sucesso hoje usufruído.
Parabéns aos santistas pelo centenário! Vida longa ao Peixe!
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