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A melhor leitura da chamada “grande mídia”

Não me agrada fazer propaganda de nada relacionado à chamada “grande mídia”, mas devo abrir uma exceção para o caderno de fim de semana, do “Valor Econômico”, publicado sempre às sextas-feiras.

Em formato tabloide, o caderno propõe reportagens, resenhas e entrevistas sobre temas variados, a partir de textos muito bem editados, claramente sem a correria típica e a limitação de espaço impostos pelo jornalismo diário.

Apesar de ser uma publicação pertencente aos grupos Folha e Globo, o “Valor Econômico” e seu caderno de fim de semana conseguem fugir do conservadorismo por muitas vezes bobo dos carros-chefe das duas empresas. E, principalmente, suas páginas muito raramente se prestam ao papel de porta-voz da oposição no Brasil, evitando o exercício manjado de transformar qualquer pauta polêmica em oportunidade de atacar o governo federal.

Voltando apenas ao conteúdo do caderno dos finais de semana, me recordo, nas últimas edições, de boas entrevistas com Contardo Calligaris e Gustavo Franco, uma análise bem interessante sobre o papel da direita na política brasileira e sua inserção junto à classe C, belas resenhas de lançamentos de livros e das novidades no cinema, uma espécie de perfil da regente titular da Osesp e uma defesa apaixonada sobre a Copa do Mundo no Brasil.

A princípio, o conteúdo de "Fim de semana" pode ser comparado ao de cadernos como o "Aliás", do "Estadão", e "Ilustríssima", da "Folha", mas uma rápida folheada os coloca em patamares diferentes. A publicação do "Valor" nem de longe tem a pretensão meio intelectualoide dominical dos outros citados. 

Nesta semana, vi apenas a capa do caderno: fotos de Chico Buarque, Roberto Carlos, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia hoje e nos anos 60, ao lado da seguinte chamada: “Nossos ídolos ainda são os mesmos – Ícones dos anos 60 continuam a comandar a massa”. Pareceu-me um pouco exagerado, mas parece ser o pontapé para uma boa discussão cultural. À leitura!

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