É batata! Toda vez que alguém fala sobre como está fazendo frio ou sobre a chuva, me vem à cabeça a velha letra de “Lôrabúrra”, do Gabriel, o Pensador, citado no título deste post. Mas quero falar disso, apesar de sempre soar como falta de assunto. Pra não ficar tão chato, talvez uma pitada social dê um caldo mais interessante.
O entorno da Praça da Liberdade e da Avenida Liberdade tem vários bancos. Desde segunda-feira, quando chegou a São Paulo essa onda de frio, muitos, mas muitos moradores de rua têm se abrigado em frente ao Bradesco, ao Santander, à Nossa Caixa e outros. A cena não é nova e nem deixará de existir tão cedo, mas é sempre irônico pensar onde esses cidadão vão procurar abrigo.
Ontem, ao esperar o farol abrir, por volta das 18h30, bem em frente ao Santander, ouvi uma senhora comentar com outra, em tom de pena: “Você consegue ter noção do frio que essas pessoas vão passar esta noite?”
Problemas sociais à parte, fiquei por um bom tempo tentando mensurar a dor que aquelas pessoas sentiriam madrugada adentro. Lembrei das vezes em que realmente passei por algo ao menos em parte semelhante e vi que, apesar de terem sido ocasiões de frio realmente intenso, elas foram ridículas, meras ocasiões cercadas por circunstâncias aventureiras, irresponsáveis, sovinas ou acidentais.
Das três friacas que me vêm à cabeça, a menos intensa foi com dona Aline Paula, em Nova Jersey. Estávamos no apê de uns amigos dela na semana do Natal e o aquecedor da casa quebrou. Havia só um cobertor e devia fazer no máximo uns 2 graus na rua. Lembro exatamente da sensação de deitar na cama gelada, mas a noite transcorreu bem.
Nos outros dois casos, no entanto, lembro exatamente da dor que o frio pode proporcionar. Dor burra, sim. Irresponsável e sovina também, mas enfim... Uma delas foi no Canadá, na cidade de Banff — uma espécie de Campos do Jordão no meio do território canadense. Depois de ter gastado uma grana com o aluguel de um carro, não queria estourar o cartão de crédito e pegar por hospedagem. Fazia -2 graus e até a meia-noite deu pra ficar de boa no carro. Depois disso, mesmo com tudo fechado, com jaqueta, bota, cachecol e touca foi possível dormir direito. Sem cobertor, até pra respirar doía.
Mas a pior situação rolou no deserto dos Estados Unidos, perto de Reno, durante o Burning Man do ano passado. De dia, quase 40 graus. À noite, a temperatura caía a zero. O vento que batia na barraca dava a impressão de que um vendaval se avizinhava. O colchão de ar, apesar de ter um pouco de camurça, parecia uma porta de geladeira. Mais uma vez, nada de cobertas. Doses de vodka ajudavam a esquentar o corpo e a tirar pequenos cochilos, sempre interrompidos pelo barulho do vento. Luvas, jaqueta e dois pares de meia quebravam um galho. O frio começava a amainar por volta das 5h da manhã, mas às 6h30 um sol medonho já invadia a barraca e torrava tudo o que estivesse pela frente. Apesar de forte, o sol não causava nem um décimo da dor que o frio trazia.
Hoje, na hora do almoço, o mesmo grupo da noite anterior havia se deslocado para a porta do Bradesco. Menos frio em São Paulo, chuva ainda mais intensa. Um deles espirrava enquanto eu entrava no banco para conferir um extrato. O mais velho do grupo o reprime: “Não seja mulherzinha!”.
Fui embora com vergonha.
O entorno da Praça da Liberdade e da Avenida Liberdade tem vários bancos. Desde segunda-feira, quando chegou a São Paulo essa onda de frio, muitos, mas muitos moradores de rua têm se abrigado em frente ao Bradesco, ao Santander, à Nossa Caixa e outros. A cena não é nova e nem deixará de existir tão cedo, mas é sempre irônico pensar onde esses cidadão vão procurar abrigo.
Ontem, ao esperar o farol abrir, por volta das 18h30, bem em frente ao Santander, ouvi uma senhora comentar com outra, em tom de pena: “Você consegue ter noção do frio que essas pessoas vão passar esta noite?”
Problemas sociais à parte, fiquei por um bom tempo tentando mensurar a dor que aquelas pessoas sentiriam madrugada adentro. Lembrei das vezes em que realmente passei por algo ao menos em parte semelhante e vi que, apesar de terem sido ocasiões de frio realmente intenso, elas foram ridículas, meras ocasiões cercadas por circunstâncias aventureiras, irresponsáveis, sovinas ou acidentais.
Das três friacas que me vêm à cabeça, a menos intensa foi com dona Aline Paula, em Nova Jersey. Estávamos no apê de uns amigos dela na semana do Natal e o aquecedor da casa quebrou. Havia só um cobertor e devia fazer no máximo uns 2 graus na rua. Lembro exatamente da sensação de deitar na cama gelada, mas a noite transcorreu bem.
Nos outros dois casos, no entanto, lembro exatamente da dor que o frio pode proporcionar. Dor burra, sim. Irresponsável e sovina também, mas enfim... Uma delas foi no Canadá, na cidade de Banff — uma espécie de Campos do Jordão no meio do território canadense. Depois de ter gastado uma grana com o aluguel de um carro, não queria estourar o cartão de crédito e pegar por hospedagem. Fazia -2 graus e até a meia-noite deu pra ficar de boa no carro. Depois disso, mesmo com tudo fechado, com jaqueta, bota, cachecol e touca foi possível dormir direito. Sem cobertor, até pra respirar doía.
Mas a pior situação rolou no deserto dos Estados Unidos, perto de Reno, durante o Burning Man do ano passado. De dia, quase 40 graus. À noite, a temperatura caía a zero. O vento que batia na barraca dava a impressão de que um vendaval se avizinhava. O colchão de ar, apesar de ter um pouco de camurça, parecia uma porta de geladeira. Mais uma vez, nada de cobertas. Doses de vodka ajudavam a esquentar o corpo e a tirar pequenos cochilos, sempre interrompidos pelo barulho do vento. Luvas, jaqueta e dois pares de meia quebravam um galho. O frio começava a amainar por volta das 5h da manhã, mas às 6h30 um sol medonho já invadia a barraca e torrava tudo o que estivesse pela frente. Apesar de forte, o sol não causava nem um décimo da dor que o frio trazia.
Hoje, na hora do almoço, o mesmo grupo da noite anterior havia se deslocado para a porta do Bradesco. Menos frio em São Paulo, chuva ainda mais intensa. Um deles espirrava enquanto eu entrava no banco para conferir um extrato. O mais velho do grupo o reprime: “Não seja mulherzinha!”.
Fui embora com vergonha.
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Abraço e valeu pela visita!