Pular para o conteúdo principal

Muito prazer, piropo

Antes de qualquer coisa, uma rápida consulta ao Houaiss:

Piropo: expressão amável ou lisonjeira dirigida a outro; galanteio.

Há também um segundo significado na língua portuguesa para a palavra, referente a um tipo de minério, que por ora não interessa em nada. Voltemos ao piropo em sua forma romântica, galanteadora... e também ao motivo desse post.

O sétimo DVD da série que tem Chico Buarque como protagonista é chamado de "Romance". Para quem não viu nenhum episódio, em cada um deles trata-se de algum tema que se relaciona com sua obra. Neste, Chico fala de canções de amor.

Em dado momento, após lembrar das várias formas de se cantar o amor ao longo da história, Chico fala da dificuldade, até dado ponto de sua carreira, em criar canções ao estilo "piropo". E começa a falar empolgado sobre essa vertente.

Chico lamenta que o termo é pouco usado no Brasil, apesar de constar no dicionário. Ele diz que na Espanha é muito comum e dá uma série de exemplos de piropos clássicos, que o influenciaram em maior ou menor grau.

Para Chico, Robertão é o rei do piropo no Brasil, apesar de considerar que ninguém na música fez versos mais belos com essa característica do que Vinicius. E cita:


Se você quer ser minha namorada
Ai que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ter
Você tem que me fazer
Um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer

Para, em seguida, lembrar outro grande piropo:


Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim

Queixo-me às rosas,
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai

Cita um clássico da língua espanhola, feito por Consuelo Velásquez, em 1940, antes da moça completar 16 anos!!


Bésame, bésame mucho
Como si fuera esta la nochela última vez
Bésame, bésame mucho
que tengo miedo a perderte
perderte después

E, por fim, cita "Every time we say goodbye", de Cole Porter, como um grande piropo e diz que se trata da canção de amor que mais admira no mundo. Se o homem diz, eis a letra e uma versão cantada por dona Fitzgerald da dita-cuja:

Every time we say goodbye
I die a little
Every time we say goodbye
I wonder why a little
Why the Gods above me
Who must be in the know
Think so little of me
They allow you to go

When you're near
there's such an air
of Spring about it
I can hear a lark somewhere
begin to sing about it
Theres no love song finer
But how strange the change
From major to minor
Every time we say goodbye


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

I Was Born Ten Thousand Years Ago

E eis que de repente leio o seguinte parágrafo hoje no ônibus, na biografia de Paulo Coelho escrita por Fernando Morais: “Em dezembro de 1976 a Philips colocou nas ruas o quinto LP de Paulo com Raul, Há Dez Mil Anos Atrás [...]. A canção que dava nome ao álbum tinha duas peculiaridades: uma redundância no título e o fato de ser a tradução adaptada de I Was Born Ten Thousand Years Ago , conhecida canção tradicional americana de domínio público que tinha várias versões, a mais famosa delas gravada por Elvis Presley quatro anos antes”. Foram longos minutos até chegar ao trabalho e procurar no YouTube a versão original da música. E bateu uma certa sensação de ignorância por gostar de ambos (Elvis e Raul) e não saber que a longa letra é uma adaptação/tradução/homenagem. Sem mais delongas, seguem abaixo o vídeo e a letra original, com a ressalva de que há mais de uma versão para I Was Born Ten Thousand Years Ago : I WAS BORN ABOUT TEN THOUSAND YEARS AGO (Traditional - Adapted by Elvis Presl...

Bismarck, unificação e as consequências da industrialização alemã

É impossível afirmar que um evento com a magnitude da Primeira Guerra Mundial tenha ocorrido por conta de um fenômeno isolado – são vários os elementos envolvidos. No entanto, para muitos historiadores e analistas, o papel geopolítico desempenhado pela Alemanha no final do século 19 foi um fator preponderante para o início do conflito. Este trabalho pretende analisar, pelo viés do desenvolvimento econômico da Alemanha, de que maneira um país unificado somente em 1871 pôde se transformar, em pouco mais de quatro décadas, em uma nação de primeira grandeza – a ponto de ser um dos protagonistas da Primeira Guerra. Que elementos – externos e internos – contribuíram para essa ascensão? Até que ponto é correto responsabilizar os alemães pelo estopim do conflito que viria a tirar as vidas de 19 milhões de pessoas? De 1789 a 1848 – anos cercados por revoluções Uma geração inteira, tanto na França quanto nos estados germânicos, cresceu sob o impacto direto das consequências da Revolução Francesa...

A grandeza de Nelson Ned

Um belo dia, em um programa de televisão (“Conexão Internacional”, da extinta Rede Manchete), Chico Buarque enviou uma pergunta para Gabriel García Márquez: “As suas preferências musicais causam espanto em muita gente, principalmente aqui no Brasil. Eu queria saber se os seus romances fossem música, seriam samba, tango, som cubano ou um bolero vagabundo mesmo?”. Com elegância e sem vergonha de suas preferências, o escritor colombiano respondeu: “Eu gostaria que fossem um bolero composto por você e cantado pelo Nelson Ned”. Pela terceira vez (haverá ainda um quarto texto), recorro a “Eu não sou cachorro, não”, livro de Paulo César Araújo para relatar causos de nossa cultura popular. Pouco antes da resposta de Gabo a Chico, fico sabendo ainda que o Nobel de Literatura escreveu “Crônica de uma morte anunciada” ao som de canções como “Tudo passará”, do grande pequeno cantor brasileiro, cuja obra em geral é relegada aos rótulos de “cafona” e “brega” de nossa discografia. Nelson Ned é figura...