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House chega ao fim: nenhum desfecho seria bom o bastante

*** ESTE TEXTO NÃO TEM NENHUM SPOILER ***

Após oito temporadas, “House” chega ao final. O balanço é sem dúvida positivo. É possível dizer que a série teve um formato parecido com o de uma montanha-russa: seu primeiro ano foi excelente, os dois seguintes mantiveram-se em um nível um pouco inferior (mas ainda melhor do que 80% do que se vê na TV por aí), a quarta temporada começou cambaleante (foi o ano da greve dos roteiristas) e terminou com dois episódios sensacionais.

Para muitos, a série poderia ter se encerrado ao final da quinta temporada. Concordo. Seria um final honesto para um personagem viciado e cada vez mais impossibilitado de conviver em sociedade. Mas vieram mais três anos, com novos altos e baixos (mais baixos do que altos) e uma trama que em muitos momentos se segurou apenas graças ao talento de Hugh Laurie.

O mesmo pode ser dito a respeito dos últimos episódios. Creio que “House” teve um final digno, embora qualquer desfecho dificilmente seria bom o bastante para ser comparado a alguns momentos  marcantes, como o 21º da primeira temporada (quando ficamos sabendo como a perna do protagonista ficou estropiada) ou o episódio duplo inicial da sexta temporada.

No total, foram 177 episódios e, segundo os produtores, mais de cem bengalas usadas ao longo de oito anos. O papel da equipe que atua por trás das câmeras é retratado de um jeito bem legal no pequeno filme exibido antes do episódio final. Hugh Laurie assume o papel de documentarista e tenta explicar como trabalham os responsáveis por figurinos, marcenaria, cenários, iluminação, roteiros, efeitos especiais e uma série de detalhes para os quais poucos dão bola.

Nesse mesmo episódio especial, que acaba servindo também como um tipo de retrospectiva, duas frases ajudam a explicar o sucesso mundial alcançado pela série. O próprio Laurie diz que “o mundo de House pode ir da comédia até a sátira nervosa, a tragédia angustiante e até a um filme de horror em poucos segundos”. Olivia Wilde, a intérprete de 13, entende que “cada personagem ao longo da série tem uma experiência pessoal e específica com House”.

É bacana dois dos principais atores demonstrarem esses pontos de vista. Entendo que “House”, da forma bem elaborada como foi feito, obteria sucesso em qualquer ambiente: sua trama poderia se passar em um escritório, em um açougue, em uma repartição pública ou numa redação de jornal, desde que seu personagem principal fosse interpretado por um ótimo ator, rodeado de personagens interessantes e com boas histórias paralelas. “Mad Men” é um exemplo disso.

No entanto, ao ler pelas redes sociais durante os últimos anos a repercussão causada por “House” junto a seu fiel público, a impressão que tenho é a de que, para a maioria, o que há de melhor na série são as descobertas das doenças de cada um dos pacientes e o cotidiano no hospital. Essa parte sem dúvida é ótima, mas insisto: “House” teria condições de dar certo mesmo que fosse a trama de um professor, de um engenheiro, de um funcionário público ou de um astronauta, desde que o protagonista e seus coadjuvantes tivessem a mesma profundidade psicológica.

“House” se tornou a série mais assistida da história principalmente pelo suspense criado a cada episódio, mas é por seu aspecto dramático que ela merece ser reconhecida como um entretenimento de nível excelente – apesar de todos os altos e baixos demonstrados nas últimas temporadas. Será bacana daqui a uns dez anos rever ao menos alguns de seus melhores momentos e constatar que tipo de mudanças aconteceram nesse período. Certas situações podem ser alteradas, mas como vimos por vários vezes nessas oito temporadas, "people don't change".

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