Pular para o conteúdo principal

Um mês em Raincouver, Chanadá

- Você percebe que esta longe de casa quando passa em frente a uma agencia de turismo e vê passagens para Tóquio por 600 dólares e para o Rio de Janeiro por 950.

- A bela geografia da cidade tem evitado dias mal humorados. Mas em algumas ocasiões é inevitável se deixar levar pelas reclamações engraçadas dos canadenses e dos forasteiros. Quem é de fora reclama da chuva (Raincouver); quem eh daqui reclama da gigantesca e cada vez maior colônia chinesa (Chanadá). Chineses e chuva são dois fatores constantes na cidade, mas em alguns dias eles passam completamente despercebidos.

- Após quatro semanas lavando as mãos em torneiras com água quente e gelada, ainda me vejo apanhando com freqüência dos jatos que ora quase me congelam, ora me causam pequenas queimaduras (já foram três, sempre na mão direita).

- A necessidade por feijão já atingiu limites lamentáveis. De amanha não passa: me renderei ao Samba, o restaurante brasileiro da cidade.

- Após quatro semanas, quem diria, já não é nenhuma loucura sair de casa apenas com uma jaqueta e camiseta, mesmo com 7 graus nos termômetros. E sem touca ou luvas.

- Os jornais gratuitos da cidade (Metro e 24 Hours) são uma droga, mas quando se está numa fase de contenção de despesas você percebe o quanto ler somente as manchetes dos jornais – ou mesmo suas noticias na integra, quase sempre escritas de forma apressadas – faz uma bela diferença entre estar completamente alheio ao noticiário da cidade ou minimante informado.

- Já falei isso pra uma galera, mas a metáfora é boa e a cada semana ela me agrada mais. A compreensão do inglês em outro pais é como se fosse um tipo de surdez que aos poucos vai sendo retirada, mais ou menos como a descrição que Damasceno-Pai faz dos remédios que ele poe no ouvido para minimizar seu problema auditivo. Um exemplo disso me deixou animado hoje: na versão completa da trilha sonora de Pulp Fiction há uma faixa na qual o Tarantino comenta a importância das musicas para o cinema. Há um mês, eu não entendia praticamente nada do que ele falava; hoje, ao ouvi-lo novamente, prestando bastante atenção, os avanços são absurdos. Daqui a um mês repetirei a dose.

- Alguém falou em feijão?

- Algumas coisas em Vancouver ainda me surpreendem negativamente. Longe do centro, é muito difícil achar um telefone público; no bairro onde moro, há sempre muita sujeira nas ruas; nos ônibus, quase todo dia vejo gente jovem desrespeitar a preferência dos bancos para idosos e pessoas com necessidades especiais.

- Por outro lado, a lista de coisas boas da cidade é interminável. Pra quem gosta de esporte, há uma quantidade muito grande de opções para se praticar uma serie deles. O uso de bicicletas é muito incentivado – é permitido transportá-las nos SkyTrain e na parte dianteira dos ônibus. Você consulta na internet o horário em que tal ônibus passara em tal rua e ele sempre aparece, pontualissimo.

- Paulo Coelho é um personagem constante. Já foram quatro estrangeiros os que me perguntaram o que penso a respeito dele. Nas livrarias, seus livros sempre estão em destaque, especialmente “Onze minutos” e “O alquimista”.

- Em tempo: futebol, mulher, carnaval e praias ainda são os principais temas de perguntas naquela fase “vamos-fazer-amizade-com-gringos”.

- O copo de suco de laranja natural mais barato que achei por aqui, numa pequena loja de não-sei-qual praça de alimentação, custava 3,60 dólares, ou quase R$ 7,00. A embalagem de 1,8 litro do suco Tropicana (o mais gostoso entre os industrializados) custa 5,40 dólares, uma facada razoável, mas menos dolorida do que o valor cobrado pelos 300ml naturais.

- Os estudantes que curtem uma cerveja são salvos semanalmente pelas pitchers. Uma long neck por aqui custa cerca de 4 dólares. Uma pint (um copão com uns 500 e poucos ml) custa uns 6 dólares, dependendo da marca. Esse mesmo copão de Guinness custa 7 e pouco. Já a pitcher (uma jarra com cerca de 1,5 litro de cerveja) costuma custar de 11 a 15 dólares, dependendo do pub.

- Sentir cheiro de maconha em algumas ruas do centro e ate mesmo em alguns vagões do SkyTrain não é novidade. Segundo as professoras da escola, os policiais aqui fazem vista grossa a quem consome, mas pegam pesado com quem trafica.

- Um maço de Marlboro custa 11 dólares. É terminantemente proibido fumar em qualquer local publico fechado.

- Bebidas alcoólicas só podem ser consumidas no conforto do lar ou em locais públicos fechados que tenham a autorização do governo. Em vários bares já me pediram algum documento pra comprovar que sou maior de 19 anos.

- Pra terminar, reproduzo a provocação que recebi um dia desses:

Comentários

André disse…
Estou acompanhando aqui... Cara, sua descrição sobre o aprendizado da língua e perfeita. Já percebi isso até quando participei daqueles intensivos onde você passa o dia falando inglês, imagina morando no Canadá...
Cris Morgato disse…
Vamos por partes, rs... Sinta-se feliz, aqui as passagens pro RJ custam $1500 pelo menos; essas malditas torneiras também me congelam ou queimam diariamente; aqui não tem restaurante brasileiro (só em Auckland), mas no mercado vende feijão preto e carioca enlatados na seção de orgânicos, rs; meu inglês ainda não é bom o suficiente pra entender nem os jornais gratuitos; aqui tb não se pode beber na rua; sim, sempre que falo que sou brasileira a única coisa que sabem falar é "football, Ronallllldo", blah!. É isso aí, depois do primeiro mês o tempo voa, aproveite! Beijos

Postagens mais visitadas deste blog

I Was Born Ten Thousand Years Ago

E eis que de repente leio o seguinte parágrafo hoje no ônibus, na biografia de Paulo Coelho escrita por Fernando Morais: “Em dezembro de 1976 a Philips colocou nas ruas o quinto LP de Paulo com Raul, Há Dez Mil Anos Atrás [...]. A canção que dava nome ao álbum tinha duas peculiaridades: uma redundância no título e o fato de ser a tradução adaptada de I Was Born Ten Thousand Years Ago , conhecida canção tradicional americana de domínio público que tinha várias versões, a mais famosa delas gravada por Elvis Presley quatro anos antes”. Foram longos minutos até chegar ao trabalho e procurar no YouTube a versão original da música. E bateu uma certa sensação de ignorância por gostar de ambos (Elvis e Raul) e não saber que a longa letra é uma adaptação/tradução/homenagem. Sem mais delongas, seguem abaixo o vídeo e a letra original, com a ressalva de que há mais de uma versão para I Was Born Ten Thousand Years Ago : I WAS BORN ABOUT TEN THOUSAND YEARS AGO (Traditional - Adapted by Elvis Presl...

A grandeza de Nelson Ned

Um belo dia, em um programa de televisão (“Conexão Internacional”, da extinta Rede Manchete), Chico Buarque enviou uma pergunta para Gabriel García Márquez: “As suas preferências musicais causam espanto em muita gente, principalmente aqui no Brasil. Eu queria saber se os seus romances fossem música, seriam samba, tango, som cubano ou um bolero vagabundo mesmo?”. Com elegância e sem vergonha de suas preferências, o escritor colombiano respondeu: “Eu gostaria que fossem um bolero composto por você e cantado pelo Nelson Ned”. Pela terceira vez (haverá ainda um quarto texto), recorro a “Eu não sou cachorro, não”, livro de Paulo César Araújo para relatar causos de nossa cultura popular. Pouco antes da resposta de Gabo a Chico, fico sabendo ainda que o Nobel de Literatura escreveu “Crônica de uma morte anunciada” ao som de canções como “Tudo passará”, do grande pequeno cantor brasileiro, cuja obra em geral é relegada aos rótulos de “cafona” e “brega” de nossa discografia. Nelson Ned é figura...

Argentina e a importância de Sarmiento

Achei uns textos antigos. Vou republicar por aqui. Contradições do liberalismo na Argentina: Uma análise da trajetória de Domingo Faustino Sarmiento Em 1922, o Prêmio Nobel de Literatura Jacinto Benavente visitou por um mês a Argentina. A cada cidade por onde passava, jornalistas e curiosos perguntavam a ele suas impressões a respeito do país e de sua população, tarefa da qual o escritor se esquivou como pôde até o dia de sua partida. Ao subir no navio que o levaria de volta à Europa, Benavente disparou um verdadeiro “tiro de canhão”, naquela que seria sua definição sobre o povo local: “Formem a única palavra possível com as letras que compõem a palavra ‘argentino’” [1] . Desde então o caso é lembrado como piada para lembrar que o único anagrama possível com as letras de “argentino” é “ignorante”. A obsessão de Sarmiento Os argentinos de mais idade se lembram de tempos em que as escolas ensinavam aos estudantes uma série de hinos: o Hino Nacional , o Hino à Bandeira , a March...