Pular para o conteúdo principal

Em Bananal, o futuro já chegou

A frase do título poderia ser um bom slogan de marketing governamental, mas é só uma constatação após passar cinco dias na pequena cidade do interior de São Paulo. Explico:

Tem uma frase já meio batida entre os homens. É aquela velha história de olhar pra alguma teenager que passa pela rua e soltar o chavão: "Imagina essa moça daqui a uns quatro anos" ou "No futuro ela vai dar um trabalho absurdo...". Há outras versões e vertentes das frases, mas, pode reparar, quase todos os homens sempre falam algo parecido — e imagino que diversas moças também.

De volta a Bananal. Passei os carnavais de 1998 a 2001 na cidade. Sem dúvida foram os mais divertidos de minha vida. Oito anos depois, eis que a festa continua animada pra caramba. E onde está o futuro nessa história toda?

O futuro nasceu de um papo com meu chapa Luiz Paulo, companheiro velho de guerra nas peripécias bananalenses. Quando tínhamos uns 18 anos, era comum olharmos pras mocinhas de 12, 13, 14 aninhos que brincavam na praça da cidade e imaginar como elas estariam no futuro. Pois bem. Elas cresceram – e bastante! Viva o carnaval!

Ainda Bananal

Bobeiras carnavalescas à parte, descobri tardiamente, após minha irmã cantar a bola, que Bananal tem uma verdadeira relíquia historiográfica em seus arredores. Trata-se da Fazenda dos Coqueiros, construída em 1855 e mantida até hoje com grande parte de sua estrutura idêntica à de mais de cem anos atrás.

O que mais desperta a atenção na Fazenda são as histórias referentes ao regime da escravidão vivido no Brasil até o fim do século 19. Em sua estrutura ainda se podem ver o poço onde os negros eram torturados e a senzala onde eles viviam — uma espécie de porão com cerca de 1,55m. A sensação é das piores.

Bem bacana também é ter uma noção de alguns hábitos dos nobres brasileiros do século 19, graças aos móveis mantidos na Fazenda e algumas relíquias encontradas soterradas ao longo dos anos em seu arredor. Escarradeiras, “vasos sanitários”, documentos importantes, anúncios de jornal com mais de 120 anos e uma infinidade de objetos muito bem organizados pela simpática Beth fazem com que o passeio seja valioso demais.

Serviço:

Fazenda dos Coqueiros
Rodovia dos Tropeiros, a 15 minutos de Bananal
12 – 3116-1358
www.fazendadoscoqueiros.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

I Was Born Ten Thousand Years Ago

E eis que de repente leio o seguinte parágrafo hoje no ônibus, na biografia de Paulo Coelho escrita por Fernando Morais: “Em dezembro de 1976 a Philips colocou nas ruas o quinto LP de Paulo com Raul, Há Dez Mil Anos Atrás [...]. A canção que dava nome ao álbum tinha duas peculiaridades: uma redundância no título e o fato de ser a tradução adaptada de I Was Born Ten Thousand Years Ago , conhecida canção tradicional americana de domínio público que tinha várias versões, a mais famosa delas gravada por Elvis Presley quatro anos antes”. Foram longos minutos até chegar ao trabalho e procurar no YouTube a versão original da música. E bateu uma certa sensação de ignorância por gostar de ambos (Elvis e Raul) e não saber que a longa letra é uma adaptação/tradução/homenagem. Sem mais delongas, seguem abaixo o vídeo e a letra original, com a ressalva de que há mais de uma versão para I Was Born Ten Thousand Years Ago : I WAS BORN ABOUT TEN THOUSAND YEARS AGO (Traditional - Adapted by Elvis Presl...

Bismarck, unificação e as consequências da industrialização alemã

É impossível afirmar que um evento com a magnitude da Primeira Guerra Mundial tenha ocorrido por conta de um fenômeno isolado – são vários os elementos envolvidos. No entanto, para muitos historiadores e analistas, o papel geopolítico desempenhado pela Alemanha no final do século 19 foi um fator preponderante para o início do conflito. Este trabalho pretende analisar, pelo viés do desenvolvimento econômico da Alemanha, de que maneira um país unificado somente em 1871 pôde se transformar, em pouco mais de quatro décadas, em uma nação de primeira grandeza – a ponto de ser um dos protagonistas da Primeira Guerra. Que elementos – externos e internos – contribuíram para essa ascensão? Até que ponto é correto responsabilizar os alemães pelo estopim do conflito que viria a tirar as vidas de 19 milhões de pessoas? De 1789 a 1848 – anos cercados por revoluções Uma geração inteira, tanto na França quanto nos estados germânicos, cresceu sob o impacto direto das consequências da Revolução Francesa...

A grandeza de Nelson Ned

Um belo dia, em um programa de televisão (“Conexão Internacional”, da extinta Rede Manchete), Chico Buarque enviou uma pergunta para Gabriel García Márquez: “As suas preferências musicais causam espanto em muita gente, principalmente aqui no Brasil. Eu queria saber se os seus romances fossem música, seriam samba, tango, som cubano ou um bolero vagabundo mesmo?”. Com elegância e sem vergonha de suas preferências, o escritor colombiano respondeu: “Eu gostaria que fossem um bolero composto por você e cantado pelo Nelson Ned”. Pela terceira vez (haverá ainda um quarto texto), recorro a “Eu não sou cachorro, não”, livro de Paulo César Araújo para relatar causos de nossa cultura popular. Pouco antes da resposta de Gabo a Chico, fico sabendo ainda que o Nobel de Literatura escreveu “Crônica de uma morte anunciada” ao som de canções como “Tudo passará”, do grande pequeno cantor brasileiro, cuja obra em geral é relegada aos rótulos de “cafona” e “brega” de nossa discografia. Nelson Ned é figura...