As primeiras lembranças que tenho de idas a cinema remetem ao fim dos anos 80, na companhia de meu pai. Os cenários eram sempre próximos: as velhas salas do Centrão de SP. Era nessas calçadas que eu, invariavelmente, saía pulando e dando voadoras após assistir aos filmes. Filmes de Jean Claude Van Damme.
A gente cresce e felizmente os gostos evoluem. Mas, admito, sempre que a Globo reprisa pela 1085ª vez "O Grande Dragão Branco", eu dou um jeito de ver algum pedaço, especialmente das grandes atuações do vilão Chong Li, interpretado por Bolo Young.
Mas por que relembro isso? O que tem a ver com o "Já reparou?". O texto abaixo, publicado no Blog de Cinema do Uol, responde a questão:
Retroceder nunca, render-se jamais
O Terminator virou Governator. Sly ressuscitou Rocky e Rambotox. Mas... e o Van Damme? Ícone do cine-porrada dos 80/90, o grande dragão branco tomou na cabeça. Longe do apogeu de “Kickboxer” (1989), “Garantia de Morte” (90) e “Soldado Universal” (92), Jean-Claude Van Damme está desempregado, perdeu na Justiça a guarda da filha, cheirou seus milhões e não tem mais um centavo no banco. De volta a Bruxelas, o carateca belga se enfia em um assalto a uma agência do correio.
Com grandes doses de realidade e algumas pitadas de ficção, esse é o plot de “J.C.V.D.”, sem dúvida o melhor filme da carreira do moço. Ok, eu sei, isso não é muito difícil. Mas Van Damme caiu na real, percebeu que seu tempo passou e aceitou estrelar e co-produzir essa comédia em que esculhamba a si mesmo, um projeto do jovem diretor Mabrouk El Mechri.
A primeira cena dá o tom da comédia. Como numa daquelas intermináveis partidas de “Double Dragon” , Van Damme arrebenta uns 50 inimigos em seu caminho para resgatar a jovem donzela, até que o surge o vilão final, o cenário cai, e o diretor grita: “Corta!”. E o nosso herói esbaforido reclama com o cineasta chinês: “Assim não dá. Eu tenho 47 anos. Não consigo mais fazer tudo em um único plano-seqüência”.
Salvo alguns flertes com a pieguice e um final meio sem pé nem cabeça, “J.C.V.D.” funciona bem como auto-paródia, tem boas piadas e um monólogo sensacional, em que Van Damme enfrenta a câmera e fala da vida de forma tão sincera que se torna irônica.
Em entrevista ao “Libération” por conta do lançamento do filme na França, o ator contou que a cena, de nove minutos, foi feita em uma tomada só, sem texto prévio, no improviso. “Mabrouk me pediu para abrir meu coração. Ele queria um plano-seqüência para que a palavra viesse melhor e para que não o acusassem de ter manipulado qualquer coisa de mim, de ter cortado minhas supostas bobagens.”
A entrevista no “Libé” é boa e dá uma idéia clara de quem é esse Van Damme que deve chegar aos cinemas brasileiros no segundo semestre. A seguir uma compilação dos trechos mais divertidos. E, no pé do post, o trailer do longa.
O convite para fazer “J.C.V.D.” - “Tinha perdido a confiança no cinema. Imagine um campeão. Tyson. Ele sobe no ringue. É nocauteado. Volta a treinar e novo nocaute. E mais um nocaute. Nessa hora, ele pensa: ‘Perdi tudo’. Naquele momento, quando a [produtora francesa] Gaumont me mostrou ‘Virgil’, o primeiro filme de Mabrouk, pedi desculpas e fui saindo. Por que vocês me procuraram? Eu estou acabado. Dêem Daniel Auteuil ou Gerard Depardieu a esse garoto, não Van Damme. Esse garoto merece mais que isso.”
Os diretores chineses que levou a Hollywood - “John Woo, Tsui Hark, Ringo Lam. Não se pode dizer que eles tenham me agradecido, né? Esse trabalho que Mabrouk fez por mim, chamo isso de uma flor: finalmente, um roteiro escrito, de atuação. Era isso o que eu esperava da parte deles, dos mestres de Hong Kong. E eles sistematicamente deram tudo a outros.”
O contato com os fãs hoje - “O que mais me dói é quando as pessoas me perguntam na rua: ‘Quando você vai fazer um filme?’. Mas eu faço filmes! É que eles não saem mais nas salas. São lançados diretamente em DVD.”
O pó - “Você pára de contar os gramas quando realmente começa com a cocaína. Posso dizer que, em termos de dose, era tamanho Van Damme. Van Damage... meu velho sobrenome. Ou ainda Jean-Claude Vingt Grammes... [risos].”
A gente cresce e felizmente os gostos evoluem. Mas, admito, sempre que a Globo reprisa pela 1085ª vez "O Grande Dragão Branco", eu dou um jeito de ver algum pedaço, especialmente das grandes atuações do vilão Chong Li, interpretado por Bolo Young.
Mas por que relembro isso? O que tem a ver com o "Já reparou?". O texto abaixo, publicado no Blog de Cinema do Uol, responde a questão:
Retroceder nunca, render-se jamais
O Terminator virou Governator. Sly ressuscitou Rocky e Rambotox. Mas... e o Van Damme? Ícone do cine-porrada dos 80/90, o grande dragão branco tomou na cabeça. Longe do apogeu de “Kickboxer” (1989), “Garantia de Morte” (90) e “Soldado Universal” (92), Jean-Claude Van Damme está desempregado, perdeu na Justiça a guarda da filha, cheirou seus milhões e não tem mais um centavo no banco. De volta a Bruxelas, o carateca belga se enfia em um assalto a uma agência do correio.
Com grandes doses de realidade e algumas pitadas de ficção, esse é o plot de “J.C.V.D.”, sem dúvida o melhor filme da carreira do moço. Ok, eu sei, isso não é muito difícil. Mas Van Damme caiu na real, percebeu que seu tempo passou e aceitou estrelar e co-produzir essa comédia em que esculhamba a si mesmo, um projeto do jovem diretor Mabrouk El Mechri.
A primeira cena dá o tom da comédia. Como numa daquelas intermináveis partidas de “Double Dragon” , Van Damme arrebenta uns 50 inimigos em seu caminho para resgatar a jovem donzela, até que o surge o vilão final, o cenário cai, e o diretor grita: “Corta!”. E o nosso herói esbaforido reclama com o cineasta chinês: “Assim não dá. Eu tenho 47 anos. Não consigo mais fazer tudo em um único plano-seqüência”.
Salvo alguns flertes com a pieguice e um final meio sem pé nem cabeça, “J.C.V.D.” funciona bem como auto-paródia, tem boas piadas e um monólogo sensacional, em que Van Damme enfrenta a câmera e fala da vida de forma tão sincera que se torna irônica.
Em entrevista ao “Libération” por conta do lançamento do filme na França, o ator contou que a cena, de nove minutos, foi feita em uma tomada só, sem texto prévio, no improviso. “Mabrouk me pediu para abrir meu coração. Ele queria um plano-seqüência para que a palavra viesse melhor e para que não o acusassem de ter manipulado qualquer coisa de mim, de ter cortado minhas supostas bobagens.”
A entrevista no “Libé” é boa e dá uma idéia clara de quem é esse Van Damme que deve chegar aos cinemas brasileiros no segundo semestre. A seguir uma compilação dos trechos mais divertidos. E, no pé do post, o trailer do longa.
O convite para fazer “J.C.V.D.” - “Tinha perdido a confiança no cinema. Imagine um campeão. Tyson. Ele sobe no ringue. É nocauteado. Volta a treinar e novo nocaute. E mais um nocaute. Nessa hora, ele pensa: ‘Perdi tudo’. Naquele momento, quando a [produtora francesa] Gaumont me mostrou ‘Virgil’, o primeiro filme de Mabrouk, pedi desculpas e fui saindo. Por que vocês me procuraram? Eu estou acabado. Dêem Daniel Auteuil ou Gerard Depardieu a esse garoto, não Van Damme. Esse garoto merece mais que isso.”
Os diretores chineses que levou a Hollywood - “John Woo, Tsui Hark, Ringo Lam. Não se pode dizer que eles tenham me agradecido, né? Esse trabalho que Mabrouk fez por mim, chamo isso de uma flor: finalmente, um roteiro escrito, de atuação. Era isso o que eu esperava da parte deles, dos mestres de Hong Kong. E eles sistematicamente deram tudo a outros.”
O contato com os fãs hoje - “O que mais me dói é quando as pessoas me perguntam na rua: ‘Quando você vai fazer um filme?’. Mas eu faço filmes! É que eles não saem mais nas salas. São lançados diretamente em DVD.”
O pó - “Você pára de contar os gramas quando realmente começa com a cocaína. Posso dizer que, em termos de dose, era tamanho Van Damme. Van Damage... meu velho sobrenome. Ou ainda Jean-Claude Vingt Grammes... [risos].”
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