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Mutantes ao vivo: impressões e frases perdidas

“Antes era Fidel... agora temos Chávez!”, declama Sérgio Dias, para em seguida começar a cantar “El Justiciero”, deixando escapar um sorriso estranho... ironia ou satisfação? Em seguida, enquanto Zélia Duncan cantarola “Baby”, um cara de voz afeminada se esgoela: “Gostooooooosa! Foda-se a Rita Lee!!!”.

Começa “Ando meio desligado”, a trilha sonora do último fora doído que levei, já há um tempo razoável. Manja aquela parte do “eu não vejo a hora de te dizer aquilo tudo que eu decorei”? Nunca sai daquela forma, mas tudo bem...

“O que essas crianças estão fazendo aqui, amor?”, pergunta uma gordinha grisalha ao marido, apontando pra um grupo de caras que, apesar de não terem nada de crianças, deviam ser ao menos uns 30 anos mais jovens que o casal estupefato.

Já falaram maravilhas milhares de vezes do teclado do Arnaldo e da guitarra do Sérgio Dias. Além de ouvir de pertinho que isso é uma verdade indiscutível, é bem bacana sentir que os dois têm um tesão danado de mostrar isso pras “crianças” a que se referiu a gordinha grisalha.

Crianças e grisalhas à parte, ver um show desses deveria ser obrigatório pra quem se interessa por música – mesmo para aqueles que não são fãs de rock. É como assistir a “Casablanca” ou ler “Dom Quixote”: quem gosta de filmes e livros simplesmente tem que dedicar algum tempo a eles, mesmo que seja para odiá-los. Mas eu gostei. Pra cacete.

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