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Corners

Durante o primeiro mes em Pender uma palavra me aterrorizou constantemente: corner. Tanto no trabalho como no meu principal momento de lazer na ilha, foram inumeras as decepcoes causadas por esse maldito substantivo. Explico:

No trabalho, a lamuria era sentida toda vez em que sobrava pra mim a divertida tarefa de arrumar camas. Quase todos os quartos do hotel tem umas senhoras King Size, que precisam de uma tecnica toda cheia de frescuras pra ficarem prontas. Lencol daqui, travesseiros dali, cobertores embaixo de tal lencol etc etc etc. E, por fim, pra ficar bonito, os dois corners (ou cantos) da cama precisam de um jeitinho especial para os queridos hospedes.

Por um mes, era simplesmente impossivel fazer bem esses tais corners. Eu sempre acabava pedindo uma ajuda pra alguma das mocas. Ate que o japa Tatsuhiro mostrou a mais moderna e eficiente tecnica samurai para finalizar as camas. Hoje da ate vergonha ver como era impossivel fazer algo tao elementar.

O outro corner eh muito mais popular, vem da esfera futebolistica. Toda quinta-feira rola uma pelada respeitavel na ilha. Futebol de campo, grama, bola que quica, buracos - ha tempos em nao lidava com isso. E eis que a cada escanteio eu sentia a mesma vergonha por nao conseguir cruzar com o minimo de capricho a redonda na cabeca de algum canadense. Foram quatro duras semanas.

Eis que na semana retrasada tudo mudou, como num passe de magica, como se eu tivesse acabado de sair de umas aulas com o Arce, o Neto, o Marcelinho Carioca ou algum outro excelente cobrador de corners. De repente, apos umas 17 tentativas, voltou a ser facil cobrar escanteios, sem fazer forca ou entregar a bola de graca pro adversario.

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